quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Caramba! William Wilson no fim do ano!!



É difícil reconhecer, mas um monte de atrapalhos se meteu no meu caminho, nesse final de ano...Ficou bem rara a minha presença aqui, coisa que vai mudar em 2010!! Difícil retomar e manter os trabalhos... Mas eu insisto, continuo, reassumo, pra brincar melhor no ano que entra! 2009 tem que acabar!! Quem se dá ao trabalho de ler o que posto nesse canto sabe que tenho recenseado as adaptações da obra de Edgar Allan Poe pra quadrinhos... Nessa mídia, ao contrário do cinema, o danado teve sorte!! Só postei pedaços de adaptações brilhantes, e mesmo assim...choveu hq!! Tava difícil terminar! Mas esse foi o ano em que Poe completaria 200 anos, então eu tinha que terminar a homenagem pretendida, no prazo certo! Poe mesmo se escangalhou todo, em vida, mas não perdia prazos... Pelo outro lado, mesmo sabendo que Corben trabalhou Poe muiton bem, o saldo de Breccia continua superlativo!! Nenhuma hq do mesmo jeitro que a outra!!! A adaptação que ilustra o post de hoje é sua insólita versão de Wuilliam Wilson... Conto brilhante, muito pouco adaptado pra quadrinhos, inclusive pelo grande Jonas Schiaffino e por mim mesmo,no roteiro, na antiguidade da Spektro e do Almanaque do Terror , da Vecchi!!! Mas não consegui achar meu exemplar, e o Breccia continua pontificando!! Sempre à altura do texto, é claro,o danado conseguiu algumas obras primas... O patriarca da majestosa hq argentina escolhia estilos como quem escolhia camisas... O leitor atento pode ver que nenhuma dessas páginas exemplificando adaptações breccianas coloridas, que postei nas últimas vezes em que escrevi, é realizada no mesmo exato estilo que a outra... Aqui, William Wilson foi pintado de um modo expressionista, dir-se-ia... Breccia sugere Egon Schiele, nessa hq, não há dúvida!!! A angústia de W. Wilson com a existência de seu duplo tá na cara... é só olhar as pgs ilustrando o post!! O tema do duplo, do sósia sinistro, é frequente na literatura fantástica, e se presta a tratamentos de peso. Alguns gigantes, além de Poe, o abordaram. De cabeça, posso citar os contos "O Parceiro Secreto" ("The Secret Sharer"), de Joseph Conrad, e "As Ruinas Circulares" ("Las Ruinas Circulares") de J.L.Borges. Nos dois casos, como no do conto de Poe, a existência de alguém quase idêntico ao protagonista da história traz consequências espantosas, a bem dizer, sinistras, para o pobre diabo que descobre haver no mundo alguém quase igual a ele, com minúsculas porém significativas diferenças... Assim sendo,acho que posso dizer: Poe permaneceu precursor, mesmo trabalhando numa perspectiva que de sobrenatural não tem quase nada, tornando o medo assunto da psicologia... Inventando novos modos de assustar! Estou convencido : se ele tivesse continuado vivo mais tempo, nosso titã romântico teria produzido mais obras primas, inaugurado mais caminhos ainda...Mas chamaram o homem mal ele chegou na festa... enfim! Nós, por nosso lado, continuamos aqui, garantindo pelo menos um funcionamento um pouco diferente, mais frequente, desse nosso currupaco bacana em 2010, com mais hqs minhas, contos meus, sim, e mais comentários gerais sobre os assuntos interessantes...por exemplo, gancho pra um bem bonito próximo episódio: Sophia foi ao cinema ver tela grande pela primeira vez outro dia... e se amarrou!! Ah, é, isso vai ser um bom começo de 2010... Excelsior! Viva Poe! Viva Breccia!! Evoé! Viva as parcerias que funcionam, como Poe/Breccia ou Lee/Kirby!! Iababdabu!!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Breccia, Poe e Mr. Valdemar




Alberto Breccia nasceu em 1919, no Uruguai, e aos três anos mudou-se pra Argentina, onde viveu até seu falecimento em 1993. O homem foi um dos gigantes dos quadrinhos. Teve o raro privilégio de ter sido reconhecido em vida. O que se tem visto aqui nesse blog, adaptando Poe pra hq, é apenas uma gota da sua caudalosa produção , já na fase da velhice, com editores garantidos pelo mundo ocidental afora e o sólido nome de artista inovador muito bem firmado. Começou a trabalhar, com hq de humor, ainda em 1936. Logo,contudo, esse tremendo mutante se viu atraído pela força das hqs de aventura de outro gigante, que foi exemplo formador para diversos grandes quadrinhistas: Milton Caniff, o "papa" do "realismo" da hq de aventura, primeiro grande rei do p&b expressivo,aventuroso. Ele dizia não ser importante desenhar um cotovelo onde ele fica, mas onde parece estar. É citado por desenhistas tão díspares quanto John Romita pai e Hugo Pratt. Breccia, contudo, além de ser um excelente desenhista, como os outros, é o mais inquieto dos três, e de mais uns vinte outros, que daria pra citar, sempre dando o famoso "passinho a mais". Diga-se de passagem, cultivou longas parcerias com os principais roteiristas de seu tempo, notadamente o hoje também legendário Hector Germán Oesterheld , criador de "El Eternauta" com Solano López; e de mais um renca de grandes clássicos da hq argentina, que não canso de qualificar de majestosa. As pgs dessa adaptação de Poe que coloquei aqui hoje são da belíssima adaptação de " O Estranho caso do Sr. Valdemar", conto brilhante (e qual dos de Poe não o é?) em que se hipnotiza um moribundo e com isso seu falecimento se torna muiito mais lento, e por fim uma libertação... Breccia a fez junto com o roteirista Guillermo Saccomano, que entendeu: cada imagem tinha que ser muito mais lenta do que o costumeiro, uma vez que a duração longa demais desse morrer é o aspecto macabro da narrativa. Claro que Breccia realizou um trabalho e tanto. A uma primeira vista, seu traço parece quase humorístico, mas uma vez que a pessoa começa a ler, percebe o quanto da adaptação depende da força dessas imagens distorcias, desconfortáveis,que chegam a dar vontade de chorar...Eu acho que tanto essas hqs a partir de Poe ou as outras a partir de Lovecraft(sob roteiro de Norberto Buscaglia) teriam mais apelo de vendas que o recém lançado volume de Perramus, por imensa que seja a capacidade de caricatura do mestre e por excepcional que seja o texto do Juan Sasturain... Esse Poe quase mudo que Breccia realizou está do outro mundo, mesmo! No próximo post,haverá mais alguns dados sobre Breccia, e, é claro, mais páginas de seu encontro com Poe...Evoé!!

sábado, 21 de novembro de 2009

A Máscara da Morte Rubra- Breccia volta a Poe!!!




Caramba!! É difícil acreditar, mas finalmente hoje RETOMO esse bendito blog!! Cheguei a duvidar... Manter funcionamento no meio da tempestade não é fácil!! Dois compromissos de txt (tempestade boa) e depois sete dias no hospital porque diabético só pode tomar antibiótico na veia (tempestade ruim), me afastaram geral daqui...Um machucadinho besta, mesmo, inflamou! Isso me custou um bom tempo no estaleiro.. Enfim! Desanimar é uma palavra que não conjugamos bem, aqui no vocabulário doméstico... De modo que hj voltei!! Trago a idéia , agora mais realista, de fazer mais ou menos um post por semana... Contudo, existem alguns compromissos antigos a saldar, e o mais pendente deles é a finalização da nossa comemoração dos 200 anos de Poe, o nosso grande Edgar Allan, precursor do conto de terror, do conto policial e da FC...entre outras coisas!!! Tenho discutido, sim, sua presença nas hq... Ao longo de todas as postagens feitas sobre adaptações de sua obra para HQ, discuto o rendimento sempre melhorado das adaptações, quanto mais recentes elas sejam... e não há dúvida, embora os trabalhos da Warren comics, nos anos oitenta, tenham sido ótimos (Berni Wrightson, Corben e os outros), Breccia, hmmmm, é Breccia. Ele o abordou , depois daquele "Coração Revelador" em p&b, que já comentei aqui, em magníficas hqs coloridas do finzinho dos anos 80 e comecinho dos 90, pouco antes de falecer. Aqui já era, portanto, o Breccia bicho solto, que se aproximava de Poe. Não tinha que prestar contas a ninguém, e as hqs saíram logo, num monte de países de uma vez, França incluída. Diferente do que fez ao abordar a obra de Lovecraft, quase não trabalhou com texto nenhum ,fazendo adaptações muito concisas e quase mudas. O seu humor de velhinho que já viu de tudo se infiltrou nos textos do tão romântico
(e eternamente jovem)Poe com um resultado curioso e inesperado. Confiram os convidados da festa nessa adaptação linda da "Máscara da Morte Rubra"! Vejam o contraste entre esses estróinas, e o penetra pestilento que vem trazer um pouco de realidade aos supostamente protegidos e bem-de-vida presentes na festa... Também dá pra notar não só o excelente trabalho de cores do mestre, como seu uso muitíssimo eficiente do aparato narrativo das hqs, do seu ritmo, para conseguir, em poucas imagens, a adaptação completa do sentido que Poe imprimiu a seu conto... Adaptar literatura pra hq exige é esse tipo de fidelidade, às intenções do autor, não ás suas palavras!! Do mesmo modo, por mais que Poe não tenha falado em gente pelada, ele com certeza nesse conto falou em deboche, no comportamento debochado da nobreza...e Breccia estava trabalhando já numa época bem mais recente, e soube trazer humor ao gótico do contista sem descaracterizar suas intenções... Evoé!! sim, é claro que continua, esse mês ainda!!!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Sobre a Bienal do Livro

A demora na execução dos planos contribui pra que não saiam assim como se planeja...a minha demora em continuar a comentar o trabalho que Breccia realizou a partir de Poe vem dwe que vou ter que fazer uma longa sessão de escaneamento das pgs (coloridas, coloridas, sim!!) que vão ilustrar o trabalho que tenho feitoo já anotando na minha releitura das hqs...mas escanear muitas páginas é um processso que demora, vou ter que fazer uma sessão só pra isso, e a organização às vezes falta... a´o prazom paga!!! Pelo outro lado, a gente tem vontade de fazer umas outras coisas, acaba que elas também fazem falta... então hj aproveito a chance!!Não consegui ir na Bienal no principal dia, na minha concepção, quando os gêmeos Moon e Bá estiveram dando uma palestra, acompanhados pelo autor de outro megalivro americano de hq, o de Dash Shaw, cujo traço não é o de nenhum Chris Ware, longe disso, mas dizem que a hq arrebenta, como o "Retalhos" do Craig Thompson, ambos publicados pela Cia. das Letras. Esta entrou no ramo realmente muito bem, com esse livro e os outros que vem lançando, tudo cada calhamaço danado, que está tendo comprador!! O título do livro do Shaw me escapa, mas é mais um camarada mostrando as intimidades de sua família... os americanos descobriram, de fato, a autobiografia!!! Nada contra o gênero, mas além da qualidade na execução do trabalho, dado que é essencial, o camarada tem que contar com uma história pessoal bem interessante!! Todos os praticantes disso, de Crumb a Thompson, certamente as têm... mas num dá pra querer isso de todo mundo!! A invenção, a contação de cascata, têm seu espaço garantido na minha estante!! No dia que fui na Bienal, que foi o seguinte, apesar do excesso de gente, consegui estar com vários amigos que trabalham no ramo e atualizar impressões, além de comprar várias coisas bacanas...Afinal, já até tuitei que voltei da Bienal cum Roy Crane e Paul Pope... O livro desse último, "The Ballad of Dr. Richardson", conta uma história simples e comovente, que me fez pensar num Sherwood Anderson mais cosmopolita.. Sim, as ligações entre literatura e hq são mais fundas, mais férteis do que pode fazer pensar a atual tendência das adaptações literárias... Não sei se Anderson escreveu novelas, mas se existem, devem ser como essa hq do Paul Pope, ligada à profundidade e à singeleza dos sentimentos e oportunidades que, por vezes, se colocam na vida das pessoas... não precisa ser verdade pra me comover, não...ou, comon já disse Alan Moore, "Isso não é mentiura! É ficção!" O gibi de Roy Crane já é a coletânea da participação do Capitão Cesar na segunda guerra. Bem mais denso do que eu esperava, é contudo aventura trepidante. Conta com aquele uso majestoso dos meios tons para conferir realismo a personagens e cenas criados com a simplicidade que só o domínio completo do métier pode dar... Sim, é um folhetim, mas nele morre gente a quem a gente tinha se afeiçoado...não é o típico, não!!! Roy Crane, pra mim, joga no mesmo time que Alex Toth, outro rei do traço conciso. É preciso dizer que Crane, no seu tempo, inaugurando a hq americana de aventura, teve bem mais sucesso comercial que Toth... Mercado burro é assim mesmo!!! Shakespeare foi teatro popular, Griffith foi cinema popular, é bom a gente se lembrar, e Roy Crane foi hq muito popular, inclusive, no Brasil, graças à sua publicação sistemática em "O GLOBO"... Mas o domingo não foi só das leituras. Além dessas compras, houve o encontro com alguns dos escritores atuais de vampirismo, o Humberto e a Martha em especial, com quem pude fofocar também um um pouco, curtindo o jeito ranzinza dele com tudo que é novidade... Outros que o conhecem também já comentaram comigo: acham engraçado o seu jeito mal-humorado com relação às coisas feitas por gente mais jovem... O negócio é o Dracula do Gene Colan, né isso?? Bem , conversamos por mais uns minutos, e aí só voltamos no domingo seguinte, quando consegui entrar na barraca da Comix,o que não tinha feito antes, e achar o belíssimo " O Guarani " do Luiz Gê, além de, num momento de sincronia blogático, o primoroso "Perramus" de Breccia, trazido pra portuga do Brasil pela Editora Globo!! Depois me disseram que o Télio Navega já tinha dado isso, eu não sabia!!Blogueiro desinformado existe também... Breccia em português, por uma editora brasuca!! Qual, ainda existe esperança pro mundo, nem tudo está perdido! O caso, então, vai ser que, quando eu terminar de falar de Breccia e Poe, vou poder ilustrar muitíssimo bem um post sobre a densidade literária, sim, das imagens que o velho mestre argentino consegue conjurar, com seu primoroso tango gráfico/narrativo, mesmo quando não se trata de adaptar texto de ninguém , só seguir o roteiro brilhante de um Juan Sasturain...mais alegria do que isso, é imnpossível achar...mesmo que, de antemão, se saiba : vou comentar também o ótimo off-Bienal do Baratos da Ribeiro ...Então, é isso, tá dito, tá tudo excelsior, ´nuff said, banoite, john -boy!!!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

El Corazón continua delator



Heh, heh... Coincidências são um assunto interessante... Notei que, no último post, falei em variações da grade de nove quadros, na adaptação que Alberto Breccia, nos anos sessenta, eu acho, fez do conto de Poe para hq. Também falei em inexatidão, incerteza quanto à concretude dos eventos da narrativa do "pobre" mordomo homicida maluco. Ora, não é que as pgs que usei pra ilustrar o post obedecem rigorosamente ao esquema da grade de nove quadros?! Não são variações como meu texto descrevia, mas, como na maioria das pgs dessa magistral hq, exemplos exatos da própria grade. Assim, há uma inexatidão entre texto e ilustração, entre o que digo e o que mostro! De modo que, para assinalar essa brincadeira do inexato em todos nós, resolvi acrescentar mais duas pgs da mesma hq; agora prestei mais atenção e dá pra ver o papel do aumento do número de quadros para a eficiência da narração. O rendimento da invenção de Breccia. Bacana!! A repetição do assunto também me dá a oportunidade de contar um caso pessoal. Tenho essa hq no acervo, de modo original. É enorme, as 11 pgs em serigrafia, cada qual parecendo um poster duro. Achei num sebo carioca da praça Tiradentes, nas priscas eras. Tenho até hoje. No dia em que comprei, depois de muito ir e vir ali por perto durante a semana, passei o resto da tarde driblando a chuva que ameaçava cair. Se ela me pegasse na rua, acabava com a hq, porque a dita está em pgs separadas em bem grandes, e saiu da loja enrolada nuns papéis soltos, por não caber em saco ou pasta algum, ali à mão...o cara me explicou que o negócio tinha uma capa noutro papel, que foi embora. Era velho... O tempo cada vez mais feio. Lembrei de um amigo, ex-colega de escola, que tinha escritório ali por perto, no centro da cidade. Ele morreu de rir com a minha chegada intempestiva no lugar, carregando aquele elefante de papel, e pedindo pra guardar ali até o dia seguinte. Curtiu muito com a minha cara, mas, comigo, leu a hq, num espanhol fácil, e concordou que era bacana, passando a prestar mais atenção em hqs. Evoé!

domingo, 6 de setembro de 2009

El Corazón Delator- A chegada de Breccia!!!



Henry James, o imenso autor de "A outra volta do parafuso", sabia o que fazia. Sua genial novela é um desses textos tremendos que vão e voltam, às vezes sem solicitação maior, na memória da gente. Pode-se dizer que é um dos raros casos de texto assombrado, em si; ele monta tal clima em cima de uma intriga tremenda, a partir da possibilidade de que as crianças da família rica estejam de fato vendo fantasma. A tensão com que os eventos se desenrolam vem de que também podem só estar ficando doidas, sim, as ditas crianças, e nada resolve essa ambiguidade; ao contrário, a incerteza domina o texto até o final. Mais ainda, porque o clímax da narrativa acontece fora da narração, e depois do fim, ainda por cima. A novela fecha com a espera da confirmação final da suspeita. Sustenta-se com essa ambiguidade acerca dos acontecimentos de um modo que assombra, numa tensão, num tal suspense, que não se desmontam. O que é que isso tem a ver com a fantabulástica adaptação de "The Tell-tale heart" ( " O Coração Revelador"), que tem duas páginas ilustrando o post de hoje e saiu dos talentos do imenso Alberto Breccia, o patriarca da majestosa hq argentina? Tudo!!! A adaptação de Breccia é obra prima muitíssimo aclamada, que tira boa parte de sua força do fato de que se concentra em alguns elementos do conto de Poe e ignora diversos outros outros. Trata-se, como é claro, de trabalho de desenhista brilhante, trabalhando num astral minimalista. E além disso, trabalho de grande roteirista, grande narrador que era esse mestre da arte sequencial. Tem a ver com texto de Henry James pela escolha de mostrar os momentos de incerteza no texto de Poe. A hq inteira se sustenta com ambiguidade milimetricamente estudada. Quase tudo que é acontecimento concreto ficou de fora. Ainda que fora só de um dado quadro, como durante o estrangulamento do velho. A hq estuda , enquanto mostra, a incerteza do mordomo quanto à hora adequada para afinal matar o pobre velho, por causa de que precisa de ver seu olho "estranho" pra tomar coragem. Também estuda a incerteza ("Será que eles vão perceber? Será que estão ouvindo o que eu ouço?") do mordomo assassino, quanto aos policiais que o visitam ouvirem os batimentos do coração enterrado sob o assoalho da sala, até perder a calma e se entregar... Estuda como?- direis. Bem, através de um recurso típico das hqs, a repetição e convivência, com mínimas alterações, de várias "mesmas" imagens! Elas sugerem o estado de limite a que chega a mente do pobre diabo que fala, insistindo que não é doido, nem ficou... O peso psicológico dessa repetição, junto com o das implacáveis massas de preto escolhidas por esse virtuose que também sabia assustar pra chuchu com meios tons( que o diga Lovecraft, a partir de cujos contos também realizou algumas obras primas em meio-tom), é imenso!!! Além disso, ele diagrama as páginas todas de modo muito semelhante, com seu uso magistral da grade de nove quadros, no que antecipa recurso de outro gigante da narração sequencial, Alan Moore, por pelo menos uns bons vinte anos. Esta grade de nove quadros, pra quem desenha uma pg, deve dar bastante trabalho, por oposição à grade mais clássica, de seis quadros. Porque se trata de detalhar muito mais do que quando se faz só seis quadros de tamanho grande, no mesmo espaço. Mas Breccia , além do mais, é Breccia. Sua incerteza expressiva se filtra pra dentro de nossos olhos a partir do fato de que, apesar de basear a sequencia narrativa na grade de nove quadros, é raro, na hq, realizá-la por completo, sempre sugerindo, contudo. Desse modo, estamos sempre confinados, mas nunca do mesmo jeito. O ritmo dos acontecimentos é seguro, mas irregular. Não se sabe ao certo o que os outros sabem, mas é certo que sabem algo de muito importante. Muita coisa no terror de Poe, que não deixa de ser romântico, vem dessa incerteza quanto à insanidade do narrador. É a esse traço que Breccia dedica aqui o melhor de seus esforços, e não aos detalhes da trama. Por isso é que, por mais que Corben seja grande desenhista e narrador, e adaptador, o trabalho superior, mesmo, é o de Breccia, o Alberto. Nuff said!!

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Dafne e Gran Torino


Bom...quem é a Dafne, essa moça aqui do lado? Pergunta misteriosa do momento... Eu e o Allan não tomamos jeito... Temos algumas idéias bacanas em comum,algumas antigas, outras mais novas, sobre protagonistas possíveis para aventuras em quadrinhos que deixem fluir a ficção cientifica, meio carnavalesca, é claro, mas FC sim senhor, que nos inunda as veias... Então a gente inventa cidades, cria personagens, faz pesquisas... Apesar do som meio greco-romano do nome dela, Dafne se relaciona mesmo é com a mitologia, o calendário e a cultura maia em geral, que maravilhou arqueólogos e astrônomos com a sua capacidade matemática, de um lado, e seu enlevo artístico/criativo, do outro! Alguns a diriam sublime, e através dela se conseguiram resultados tremendos, do ponto de vista da precisão dos resultados de previsões de resultados agrícolas e alinhamentos estelares... Um desenho como esse que postei hoje é um estudo de personagem, parte de um processo às vezes lento e às vezes rápido, de estabelecimento de uma base de trabalho...só se desenha repetidas vezes, a partir de diversos pontos de vista, quem já se conhece bem!! Bom, o que é que tem isso tudo a ver com o magnífico filme de Clint Eastwood, "Gran Torino", que tá fazendo parte do título do post de hoje ? "Gran Torino", de forma aprofundada, finalizada, é um estudo de personagem também! Claro, não é só sua premissa gráfica feito a Dafne aqui do lado, mas um estudo acabado, "estereofônico". Não estou falando do pistoleiro quase sem nome, impiedoso e lacônico, que percorreu a maioria dos filmes em que Eastwood atuou, na primeira fase da sua carreira. Não. Mas do Dirty Harry, o policial durão, pragmático, que estreou no na época violentíssimo, se não me engano, "Magnum 44", que mandou bala, decidido, numa ampla conspiração de... corrupção policial! Através dos filmes que fez com esse quase estereótipo, porém revisado, como tudo de respeito hoje em dia, Eastwood vem estudando esse personagem do cana durão mas de bom coração, tanto quanto o pistoleiro solitário de que falei antes, e que desembocou no igualmente excelente "Os Imperdoáveis". Lá ele fez isso revisando o mito do caubói por dentro, aqui o do policial. "Gran Torino" mostra um homem que tem que estar à altura do mito e decide encarar o desafio. Agora , o que é bonito é que ele faz isso ultrapassando, se livrando dos preconceitos que foram usados na construção do mesmo mito do qual escolhe estar à atura, para lutar o bom combate. A clareza com que vê esse bom combate na sua frente é o que comove. Incluem séria auto-revisão, mas bem discreta... As atitudes que toma surpreendem pela radicalidade e pela maestria. Um trabalho desses é um coroamento e exige maturidade. No caso de Clint Eastwood, a sua maturidade aflora Conradiana, conquistada no fogo de sabe-se lá quantas aventuras extraordinárias, agora revistas à luz dura da atualidade que sabe criticar seu passado... O que eu e Allan, com muita calma, estamos começando (sempre começando, o Brasil é a terra dos começos, ainda que alguns levem a bom termo) é a procura de um personagem que dê foco, que seja retrato desse histórico projetivo , a FC com que mais uma vez voltamos a conversar... a renovação da cosmosfera terrestre é uma aventura ainda por narrar... Sim,por outro lado o "mês" de Poe continua, esse foi um intervalo , devido a uns singelos probleminhas de produção, mas nosso POEta volta logo!

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O Corvo-Corben volta ao assunto




Caramba! O Corben dá trabalho, sim! Mas vale a pena! Não consegui fugir do seu jeitão tridimensional, não!! O caso é que, já depois do fim da Warren, muitos anos depois, no selo contemporâneo MAX, da Marvel, voltado a conteúdos mais adultos, ele e o roteirista Rich Margopopulos, com mais páginas pra cada hq, voltaram à obra de Poe! Nada contra se voltar a um tema! Contanto que não se faça a mesma coisa! Nesse novo caso, se dedicaram a hqs inspiradas por sua poesia e procurando inovar no tratamento dos poucos contos adaptados, entre os quais, sim, "O Coração Revelador", com o qual Os dois não mexeram, na época da Warren.A preocupação de não se repetir no tratamento do Corvo é evidente . Pode-se ver nas ilustrações do post de hoje: ficou mais entusiasmado, sem perder a classe. Corben e Margopulos injetaram foi mais sexo na sua leitura de Poe. Um beijo como o que está aqui nunca foi escrito pelo POEta, suspeito. Outra coisa: a minissérie teve três números,cada qual trazendo três textos dele pra quadrinhos, sempre com rendimento final diferente do proposto pelo Poeta. Um desses textos seria algo conhecido e os outros dois sempre poemas escolhidos a dedo. O texto principal do primeiro número é esse tratamento do Corvo... A "vantagem" de um tal tratamento é que permite publicar o original, isto é, o poema, por inteiro, junto da hq que inspira. O pacote é bacana, ainda que , como toda releitura, não seja muito fiel ao original...Bem, uh...carpe diem!!

terça-feira, 25 de agosto de 2009

O Retrato Oval



Richard Corben,como eu disse na última vez em que falei do assunto, é um dos quadrinhistas americanos que de mais perto tem se relacionado com a literatura. Adaptou diversos autores, já mencionei não "apenas" Poe como Harlan Ellison, Robert E. Howard, e hoje ainda acrescento William Hope Hodgson, no livro recente sobre a Casa... a Casa... "The house on the Borderland", é isso! - que saiu pela Vertigo em português pela Devir (ou muito me engano). Ainda hoje o desenhista continua contando muito bem suas histórias,com seu habitual rigor de realização; o mercado é que afinal conquistou franqueza comparável à sua. Com a obra de Poe, tanto na Warren como fora dela, esse já vivido bacana realizou diversas tremendas hqs; a maioria das quais, como é o caso desta versão de "O Retrato Oval", com roteiro de Rich Margopoulos. Escolhi essa hq pra comentar hoje porque dessa vez Corben realizou uma excelente variação. O conto de Poe, como se sabe, é sobre o pintor que pinta a esposa tão bem que seu retrato fica mais real que ela, absorvendo-lhe a vida enquanto ela definha.(Não é uma história de vampiro, não? Nem sempre é preciso mostrar as presas...) Bem, Corben nessa hq só usou seu conhecido hiper-realismo (na época, ainda não havia ninguém que rivalizasse com ele no quesito), seu lance especial com os volumes das coisas, no retrato que o camarada está pintando! Seu trabalho no resto da hq é realista no sentido em que o de diversos outros artistas americanos é: realista de traço e não de sugestão de volume com outra técnica (uso de aerógrafo,acho eu, mas, me esclarecem, no caso dele, não apenas do dito). Assim, não só a sequencia das imagens conta a história, mas também o uso contrastante de duas técnicas de desenho... duas ou mais! Numa das páginas que ilustram o presente post, por exemplo, vemos uma ampliação progressiva do assunto de um quadro, e em vez de um detalhamento maior do assunto em si, o que a imagem nos mostra é sua retícula, ou seja, um aspecto gráfico, como um limite da sua capacidade de definição do assunto, o que dá muito certo nesse caso. Claro, o argumento do Poe se prestava muito bem a experimentos sobre o que é mais ou menos "real". No entanto, porque diacho ninguém ainda tinha feito? Continua, sim!! No próximo e emocionante episódio!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A LUNETA MÁGICA-O fim da festa do lançamento




Eh, eh, eh...O lançamento d´A LUNETA MÁGICA já foi na quinta feira passada, mas não resisto a voltar ao assunto ainda uma vez, todo contentão como fiquei de ver nosso trabalho circulando... O Márcio mandou essas fotos que postei e ainda mais umas outras, que não cabem. Toda festa, é claro, tem seus ausentes sentidos. No nosso caso, teríamos, como o próprio Márcio disse num e-mail, ausência sentida foi do Sílvio Alexandre, nosso excelso editor. Mas ele mora em SP, é um camarada ultra super-hiper atarefado como soem ser os paulistas; além do custo em grana , também haveria decerto outro custo em tempo e trabalho. É mais ou menos pelo mesmo motivo que duvido muito nos seja possível fazer lançamento paulista, por mais que se creia na força daquelas plagas, em termos de compradores, e até mesmo do número de bacanas que daria as caras pra matar as saudades um pouquinho. Mas é importante dizer que o cara soube conversar com a gente, falar as coisas corretas na hora adequada, e contribuir para nosso trabalho. Um interlocutor na hora do texto faz boa diferença. Mesmo que ele, ao que me lembre, só tenha lido um pedacinho, soube o que dizer. Caso no nosso país houvesse um "ramo dos quadrinhos",as relações fossem minimamente mais profissionais, creio que teria papel importante. Dito isso, cabe notar que foi só um dos ausentes importantes. Alguns personagens da novela (pra manter a terminologia do Ota) desta vez não se encontraram de novo, cada qual por motivos distintos, do calendário ao cardápio mal escolhido, em noitada recente. Mas também foi ótima ocasião para ser surpreendido com reencontros bacanas... e assim houve uma continuação comemorativa! É fato, com umas visitas surpresa no dia seguinte de manhã... Gente que se confundiu mas nem tanto. Lançamento não quer dizer nada, se não gerar um bom boca a boca. E isso eu acho que esse nosso com certeza vai fazer (já está fazendo), mistura de festa afetiva com ocasião comercial que foi, e depois , como a noite foi fértil em conversas bacanas, nossos jardins continuaram cultivam essas flores curiosas, as perspectivas de realizações futuras!! Deu pra gente ficar bem contente, sim!! Pode ter sido o primeiro livro que o Márcio põe na praça, então é a primeira vez que ele e o Lucas sentem isso...Olha, eu já pus outros á venda, mas pra mim fazer a festa do lançamento é sempre como achar que é o primeiro... Confesso que eu, pessoalmente gosto!! Ah, sim, antes do mês acabar, o nosso Poe volta a nos visitar! Fim de festa de certo jeito, sempre possível de começo de outra!!!

domingo, 16 de agosto de 2009

A LUNETA MÁGICA- O lançamento foi quinta feira!


Esse aqui do lado é o desenho que Márcio fez e o Lucas coloriu, pra sortear no lançamento da Luneta Mágica. Não tenho certeza, mas acho que veio quentinho da prancheta do segundo pro lançamento de nosso livrinho. Sim, o Márcio é o excelente de Castro, que desenhou a hq. E o Lucas a coloriu e letreirou, de modo que o desenho representa dois terços das forças envolvidas. O Lucas foi o último dos três a chegar. Eu fiquei envolvido , a tarde toda, com a papelada de mais uma esperança, digamos, ainda vadia. Mas difícil de formular em termos burrocráticos. Demorei pra me livrar disso, mas consegui chegar na livraria na hora certa. Tomei a insulina lá mesmo, mantendo o horário apesar do dia ser especial. Um detalhe especial isso, que eu curti bastante. Eu e Márcio começamos a assinar autógrafos assim que sentamos na mesa que a livraria montou. Quem ganhou o desenho foi alguém que apareceu lá por conta dele, e ainda estava na região, quando fomos depois pra Devassa que tem ali perto da Travessa, pra comer e conversar. E aí chamaram, ela foi lá, pegou seu desenho e saiu toda contente. Eu apreciaria, também. Ficamos bem felizes; o livro, como eu já disse aqui, tá bem impresso, todos os que lêem curtem e espero muito que nos dê a chance de realizarmos outros trabalhos assim. Espero que as livrarias o botem pra vender e que ele seja fácil de achar. Ou seja, que venda aos potes! Merece, mesmo que eu seja suspeito pra dizer. A Livraria da Travessa tem feito um excelente trabalho de promoção dos quadrinhos e não se pode esperar isso de todos, mas acho que em geral se amplia o espaço dos quadrinhos nas livrarias, e há mais delas e isso tem significado expansão dos points de hq. Outra livraria carioca que faz um trabalho legal com hq é a do Arteplex, em Botafogo. As livrarias, eu acho, têm evoluído pra esse espaço de frequentação, com os bares e tudo, e salas de palestra e debate, e as hq têm um papel nisso. Já em especial o lançamento de um livro, do ponto de vista de quem o faz, é como eu já digo faz tempo, a ocasião de ver " heróis diferentes na mesma aventura". Aparece o amigo antigo, o seu ex-aluno, o outro bacana que já trabalhou contigo, o desenhista brilhante que vc acaba de conhecer, e assim diferentes períodos da vida da pessoa trocam figurinhas. Isso sem falar na família, que no meu caso prestigia , que bom! No meu caso, sem o apoio e o afeto da Juliana e da Sophia, não dava nem pra saída. Além disso, quando você tá lançando um trabalho em colaboração, como é o caso da Luneta, aparecem também, como diria o fabuloso Ota, os personagens da novela que tá passando no outro canal. O que te dá, é claro, a sensação de renovação. A confraternização posterior, quando nós, também o Márcio e a namorada,o Lucas e mais uns outros bacanas, esticamos no restaurante, botou por exemplo a Sophia (minha filha de três anos, já, minha nossa senhora!) pra conversar com o Oswaldo, que tem um passado oculto e misterioso no papel do robô Kronski, que era quem de fato resolvia os casos do detetive Alex Sartori, da Divisão de Casos Absurdos, mas tinha que morar num armário mesmo assim. Oswaldo tentou me convencer que já fez parte do elenco de "O Amigo Americano", mas eu sei que foi de "Chinatown". Só esses diálogos todos já valeriam a noite, e a Sophia morrendo de rir, ainda por cima. Como são acontecências do lançamento do meu livro, além do mais, não posso senão ficar alegre. E esperar, repito, que venda aos potes! E que as bibliotecas das escolas públicas se apaixonem por ele...

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A LUNETA MÁGICA- o lançamento é amanhã, na Livraria da Travessa de Ipanema!!!



Eh, eh, o post de hoje é micro, o calendário e uns outros escritos piscam na minha frente,coisa meio atrasada mas merecedora de atenção, eu continuo nadando, carne de pescoço... Cismadão esqueço de avisar o leitor acidental que ainda hoje aqui acaso passe...é amanhã!!Dia 13 de Agosto! Sim, é amanhã o lançamento de nossa adaptação pra hq do romance de Joaquim Manuel de Macedo... "A Moreninha" é só o primeiro de seus títulos, de retumbante sucesso comercial já naquela época... O cara teve pra mais de vinte títulos publicados, bem uns trinta! Outra reedição de texto seu, que vi, mas não comprei, é sobre as ruas do Rio da época dele, sob seu olhar satírico...Sim, o cara era romântico, mas não ingênuo, nem muito menos burro!As otoridade num fica sem as oreia bem puxadinha, merrrmo, não!!! Embora ele não quisesse dar "aula" de Brasil a ninguém...não idealizava índio, não, ou pelo menos até agora nas minhas mãos não chegou...Diversas vezes, isso sim, uma ou outra passagem da Luneta soa bem contemporânea...A opinião sobre comportamento de político, por exemplo, permanece atual geral!! E olha que naquele tempo ainda havia escravidão... as classes dominantes possivelmente tinham representantes mais toscos... Enfim...por hoje é só, tenho que mexer outro caldeirão, reitero o convite a quem passar por aqui.,.. aparece na travessa de Ipanema, amanhã de noite...´[e claro que depois eu conto como foi!!! Sursum corda!

domingo, 9 de agosto de 2009

Copacabana é bem bacana





Esse trem do "mês" de Poe ficou enorme!! E ainda tá longe de acabar, graças à riqueza do acervo relevante que tá sendo possível levantar... Só que, nesse meio tempo, não escrevi sobre mais nada! E ainda fui atropelado pela necessidade de reciclar gavetas!! Bem, uma das coisas que não é quadrinho baseado em Poe , e cujo comentário tá bem atrasado, é o belo livro do Sandro Lobo e do Odyr, Copacabana. Odyr do quê? Não descobri, olhando o livro. O cara desenha, viu! Mais do que isso: era o parceiro correto pra esse livro que o Lobo vem moendo faz tempo. Sim , posso não ter estado perto da panela,na hora do fogo, mas na cozinha desse projeto, já antigo, eu estive sim!! E é bom dizer dizer que compensa, e muito! É um quadrinho francamente literário. Não, não está adaptando romance de ninguém pra hq. Mas é romanesco, porque não economiza páginas para nos dar uma boa noção da vida da Diana, que transita no bas-fond copacabânico. E nem é folhetinesco!!! O livro não conta uma "grande trama", mas dá um testemunho suado, amalgamado, junção de diversas coisas cujas sombras, ao menos, o Lobo viu. Esse livro, aliás,com um tal lado de reportagem, se torna bastante oportuno, no momento em que se fala de colocar no lugar da buate (a Help) o MIS... Quem viver, verá! Dizem, também veremos a zona portuária botando pra quebrar... bom, quanto a nós aqui temos motivo pra achar que o cancelamento de um símbolo não é o de um problema, e todas essas garotas continuam na rua. Sua imersão na sacanagem geral, no livro de Odyr e Lobo, não nos é mostrada pra nos provocar, mas pra nos dar a ver o que muita gente tem que fazer com sua vida. O que é bem legal nessa hq é o lado de testemunho. Lobo escreve sobre o que viu ... A hq nos traz a duração quotidiana da vida da garota e dos poucos momentos que consegue descolar. No preto e branco impreciso do Odyr, sublinha o quanto todas essas vidas são provisórias. Mas, porém, contudo, todavia, toda vida o é, né? Sobre essa coisa do testemunho, pra completar, recorro a um dos meus heróis, Lima Barreto, que disse mais ou menos o seguinte: "Escrevo pra que meu leitor entenda em quinze minutos o que levei a vida toda pra entender sozinho". Foi o que o Lobo fez! Há um amadurecimento de fabulação e de texto, no qual investiu, até escolher essas tão poucas imagens, tão poucas palavras, que mostram tanta coisa... Peço desculpas aos eventuais leitores pela qualidade do corte dos scans, muita coisa aqui tá mais provisória do que devia...Contudo, dá pra ver que a hq se desdobra devagar, vai trazendo a gente pra dentro aos poucos...Ainda que provisório, incerto, Copacabana permite vislumbrar um mínimo de melhoria de vida... e essa semana voltamos ao Poe!!

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O Corvo- Segunda versão





O ano era 75 ou 76. Foi na Avenida Copacabana, no caminho entre a casa dos meus pais e a da minha vó, tinha essa enorme banca de jornal que ainda hoje tá lá, bem mais normalizada que naquela época. Nos finais dos anos 70, era o que eu chamava de um lugar cosmopolita, e achava o máximo frequentar. Entrava numa que estava no meio do mundo!!! Tinha jornais em inglês, espanhol, francês, alemão e italiano. E revistas em todas essas línguas também, todos os gibis americanos de super-heróis, os da Warren todos, além das francesas Pilote e Spirou. Um lugar que ampliou decisivamente meu horizonte quadrinhológico, e uma das histórias que me deixou impressionado de fato é essa versão do Corvo, de Poe, pela titânica dupla formada por Corben, então se assinando Rich Corben, e o roteirista Rich Margopoulos. Me lembro que fiquei de cara com o trabalho do Corben, que com seu jeito pintado, seu trabalho de sugestão das massas (de personagens e cenografia) com as cores, me deixou desarvorado. Ainda demorou uns anos, até eu conhecer o grande Cesar Lobo,e frequentar seu estúdio, pra entender que a magia do Corben se chama (chamava?) aerógrafo. Pra quem ainda hoje não sabe, o aerógrafo é uma caneta que te permite não só controlar a direção do traço, tal como as outras, mas também sua espessura. Depois, muuito depois, é que chegaram os photoshops da vida. Mesmo assim, tantos anos depois, tendo entendido tantas coisas sobre os processos técnicos envolvidos, a feitiçaria visual do cara continua me deixando abestado. Num tem pra aquarela de ninguém!!! Também demorou um tempo pra eu descobrir que ele vinha dos undergrounds, e depois que eu o fiz achei difícil imaginá-lo do lado de Crumb ou S. Clay Wilson... Também inda não sabia que houve undergrounds e undergrounds, nem todo mundo era humorista. O mundo não era só "Zap", certo, existiam também "Slow Death" e "Fantagor", entre muitas outras! No entanto, a Warren foi onde Corben encontrou o grande público pela primeira vez!!Talvez essas informações sejam espantosas, pra quem viu os trabalhos recentes do Corben no Hulk, no Luke Cage ou no Hellboy. Mas ele, como muitos outros desenhistas , dizia na época que jamais teria espaço pra fazer as hqs que queria no universo dos superseres... Isso eu posso perfeitamente entender. O ambiente hoje é diferente, Joe Quesada não é Jim Shooter. O Den, personagem nuzão do Corben, o protagonista de "Neverwhere", de fato não poderia ter saído numa revista da Marvel, nem nas da época nem nas de hoje!! Além da nudez de homens e mulheres, a hq é difícil de acompanhar. O roteiro era muito doido, destrambelhado mesmo!! "Neverwhere", por mais majestoso que seja seu desenho, ainda hoje me decepciona, uma vez que Corben, de todos os desenhistas americanos, é um dos que mais e melhor realizou adaptações literárias...e ali ele estava a fim de desenhar!!! Eu esperava que, lendo tanta gente boa, como leu, desenvolvesse um texto seguro... Mas Corben trabalha bem, mesmo, é com textos alheios. Acho que hoje ele sabe disso,e o número de vezes que trabalhou com excelentes roteiristas como Jan Strnad e Simon Revelstroke o acusa. Gente que raramente trabalhou com outros desenhistas. Poe mesmo lhe emprestou alguns textos , como estamos vendo hoje, e ainda vamos ver mais. Além disso, Corben adaptou pras hqs autores de alta categoria como Harlan Ellson, Ray Bradbury, e Robert E. Howard (que, se não é do primeiríssimo time como os outros dois, rende ótimas hqs, como sabemos todos os fãs de Conan o Bárbaro) além de alguém mais, que estou esquecendo. A adaptação que ilustra o post de hoje também me comoveu por causa do ritmo , da manutenção do andamento do poema original com um vocabulário simplificado, deixando a complexidade para o desenho... e isso, não nos iludamos, vem da carpintaria do roteiro!!! Rich Margopoulos acertou a mão muito bem acertado, e Corben, que ainda voltaria mais vezes a Poe, aqui botou sua arte pra render mesmo. Como foi uma das primeiras hqs que não era de super-heróis que eu li, num dos primeiríssimos gibis da Warren que vi, foi uma experiência e tanto! Muita ousadia de uma vez só!! Foi das primeiras hqs que me mostrou como elas podem render resultados de altíssima qualidade...de tanto manusear meu exemplar da Creepy 68, o original em que essa hq saiu, ele ficou meio destruído, mas o grande Bola me arrumou esses scans espanhóis... Mas nós vamos voltar a certas pgs que estão aqui conosco hoje, por causa de problemas de rendimento da imagem que vale a pena discutir... Por enquanto, ainda cabe comentar que a edição brasileira da Creepy, a saudosa Kripta, da RGE, não ousou traduzir as histórias coloridas da Creepy... não teria conseguido fazer justiça a materiais como esse ou o do Reed Crandall no post anterior! De modo que ainda cabe dizer sim, que existem muitas facetas dos quadrinhos da Warren que nunca foram vistos direito aqui ou em Portugal... enfim! Assim caminha a humanidade!! Ou melhor ainda, cheio de entusiasmo pela qualidade da arte que vi... Excelsior ! Viva, viva Corben, que me mostrou não ser preciso vestir as cuecas dos personagens por fora das calças deles pra realizar tremendas histórias de ação...Sim! Excelsior!!!

segunda-feira, 20 de julho de 2009

O Coração revelador- Segunda versão






"O Coração Revelador" também chegou aos quadrinhos nos gibis da Warren, que passaram a ter, depois de um certo ponto, uma curta seção colorida em cada edição. Mais uma vez, a experiência pioneira esteve nas mãos de Archie Goodwin e Reed Crandall, que devem,sim, ter ficado bem felizes de ver seu trabalho em papel branco, uma raridade na época. Gibi naquele tempo, os anos setenta, era coisa de segunda, e portanto não tinha vida comercial que bancasse certos valores altos de impressão.Só gente boa ganhava papel branco e co-res, na Warren!! Goodwin , por seu lado, tinha uma prosa concisa e atenta muito mais às necessidades narrativas que a história passava a ter, uma vez trazida pros quadrinhos, do que a qualquer "fidelidade" à letra do texto original. Sua fidelidade era à intenção de Poe: assustar. Quando menino, Goodwin, como Will Eisner, terá sido leitor não só de Poe, mas de muitos outros contistas americanos, como O. Henry e Damon Runyon. O folhetim e o conto andaram muito de mãos dadas nas publicações populares dos EUA, e a noção de colocar sempre uma nova surpresa no final de uma narração é mais típica de O. Henry( que Eisner cita como influência assumida) do que de Poe, mas tudo se mistura. Americano, a seu modo, também aprecia um Carnaval . Assim, não é de estranhar que, nessa adaptação, Goodwin tenha acrescentado mais um detalhe à narração de Poe. Um segundo final, por assim dizer. O mordomo do velho do olho duro, o pobre diabo que se vê assombrado por aquele desconfortável detalhe na aparência de seu patrão, não só endoida por conta disso (com esse "mote"), como fica, depois que pula da janela e se suicida, com um olho duro que nem o do velho. Essa história de suicídio é invenção de Archie Goodwin! O texto de Poe trabalha o medo mesmo é no tomar de decisões do mordomo, que a hq mostra muito bem, e no diálogo surrealista dele com a polícia, antes que o bater do coração do defunto o force a se revelar. Essa parte a meu ver, ficou muito submetida à parte verbal da narrativa, nessa hq. Não tá bem mostrada, com o destaque merecido. A busca dos equivalentes visuais da angústia do desgraçado só foi até certo ponto. O principal fica dependendo do quase ilustrativo, de tão meticulosamente bem acabado, traço de Reed Crandall. De fato, é trabalho impressionante. Como se Hal Foster fosse um narrador mais ágil e desenhasse terror... A cor sublinha a narração direitinho, principalmente o lado emocional, mas como seu uso foi meio muito entusiasmado, então às vezes obscurece detalhes do traço do desenhista. No todo, o uso dessas cores, bem pouco à vontade, é um ponto bem mais fraco que as ousadias do roteiro, o qual só desagrada purista. Contudo, mas, porém , todavia, embora Reed Crandall, como podemos ver, e outros parceiros seus do tempo da EC, continuassem afiados, ainda não era com eles que a Warren ia inovar mesmo... Continua ,sim, no próximo e emocionante episódio!!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Os Assassinatos da Rua Morgue- Segunda versão




Nos finais dos anos setenta, depois de uma longa decadência em que Archie Goodwin saiu da editora e os veteranos da EC sumiram, sobreveio uma segunda era de ouro dos gibis da Warren. O que se deu foi que os editores, possivelmentew Budd Lewis, se é que era mesmo esse o nome do bacana, notaram existir um bom número de desenhistas em outros mercados do mundo,tão capazes quanto aqueles, e possivelmente mais baratos... Os espanhóis em particular, ficaram felicíssimos de serem pagos em dólar! Conviveram bom tempo com uns poucos americanos pouco afeitos a super-heróis. Gente de alte categoria abrilhantou as páginas desses gibis de uma forma nova. Estou falando de desenhistas de estirpe, como José Ortiz (o mais sombrio de todos, dono de longa carreira, ainda hoje em atividade, fazendo Tex) Estebán Maroto (conhecido no Brasil pelos Cinco por Infinitus, sua FC propriamente espanhola), Isidro Mones, Luis Bermejo, Adolfo Abellán, e o José Gonzalez, que estabeleceria o look definitivo da Vampirella, pouco depois de chegar na editora. Além de capistas como Enrico e Sanjúlian, que estiveram à altura de Frazetta como nenhum de seus substitutos americanos estivera, na editora, ao menos. E sim, é claro que toda essa gente adaptou contos de Poe pra quadrinhos, na Warren. As imagens no post de hoje vêm da segunda versão de "Os Assassinatos na Rua Morgue" que consegui encontrar. A primeira foi aquela dos "Classic Comics". Não se discute, é bem melhor que a primeira, sim!! Mas isso não é dizer muito. Essa nova versão foi realizada por José Ortiz, com roteiro de Rich Margopoulos. Ilustra muito bem o fato de que um excelente desenhista, apropriado ao tema, inclusive, não salva um roteiro ruim, ou limitado. Pena. O roteirista, que assina quase todas as adaptações que não foram escritas por Archie Goodwin, de costume fazia serviço melhor. Mas aqui ele remoçou tanto Auguste Dupin quanto o narrador do conto, na perspectiva de trazer mais ação aos acontecimentos, imagino. Engano. O conto precisa dos raciocínios, não das correrias. Além disso, Margopoulos fez acontecerem os assassinatos quase embaixo dos narizes dos personagens. Parece que foi sorte eles descobrirem a verdade dos fatos, não esforço. Ou seja: só manteve os aspectos terroríficos do conto original, eliminando aquilo que, no texto de Poe, constituiu a inauguração da literatura policial ou detetivesca, cujo principal personagem viria a ser Sherlock Holmes. Não acho que seja uma boa opção escangalhar com aquilo que Poe e diversos leitores consideram a parte mais singular de seu trabalho, a literatura de raciocínio. O que faltava talvez fosse um número maior de páginas, para que as imagens pudessem acompanhar mais de perto, mais devagar, o movimento na cabeça do narrador. Como acompanha na do macaco, quando chega a hora. A opção por acelerar o ritmo deu certo, não há dúvida, quanto aos aspectos terroríficos do conto. Mas fazer acontecer tudo de uma vez só, sem se deter na investigação nem um pouquinho, faz parecer muito "sortudos" Dupin e o seu confrade narrador. Por outro lado, aqui no post está uma das melhores partes da história, quando tudo se passa através dos olhos do macaco apavorado que comete as besteiras... O efeito da quase repetição de certas imagens, e do tamanho de todos os quadros nessa pg, é enorme. Quase compensa as faces jovens demais dos protagonistas no quadro de abertura,logo acima. A vida é dura! Mesmo os bons se enganam! Talvez não valha a adaptar o que não se rende à adaptação...Ou então fazê-lo com cuidado...

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Epa! O Barril de Amontillado!






O post de hoje é cheio de pedidos de desculpas. Começo pedindo-as pela qualidade de alguns dos scans que sou forçado a exibir. isso é para não escangalhar muito certos gibis destroçados que têm bravamente cumprido seu dever, esses dias. O de mostrar as páginas nesse posto de observação, às vezes sofrendo amassões e puxões além do chamado do dever. Mas não há outro jeito...Já o segundo pedido de desculpas vem do fato de que achei que a versão do Gato Preto por Bernie Wrightson, de 74, inaugurava o caso de amor da Warren com Poe, nosso Edgar Allan. Mas fui fuçar com mais atenção e encontrei adaptação bem mais antiga. Sim, feita em gibi da Warren! Ainda do meio dos anos sessenta, a época em que Archie Goodwin era o editor e principal roteirista. Reed Crandall, o desenhista, era um veterano da EC Comics, parceiro de nomes como Wally Wood, Johnny Craig, John Severin, George Evans, Bill Elder, e muitos outros papas do realismo em hq. Muitos deles voltaram a fazer horror quando James Warren criou suas revistas, Creepy, Eerie e Vampirella. Com certeza Crandall em especial estava contente, pois deu o melhor de seu traço meticuloso para essa adaptação do Barril de Amontillado, a primeira para os quadrinhos. A Warren ampliou o repertório!! Podemos dizer que se trata de uma hq de época realizada com o maior capricho.Goodwin sabia convidar o desenhista certo pra tarefa adequada. A única imagem aterrorizante nesse conto, é a do final. Então , com o maior acerto, Crandall, como Poe, se dedicou a evocar os desvãos da vasta adega na qual acontece a ação da narrativa. No fim desta, entendemos que tais desvãos também são os da mente do narrador, que se tornou matador... e que ele se dá mal por ficar lá conversando com o camarada que emparedou. É como no "Crime e Castigo", do Dostoievski: voltar à cena do crime leva ao desastre... Aqui, o matador perde o caminho de volta enquanto a adega se inunda... nada de sobrenatural se passou, e não há nem sombra de recurso ao expressionismo de Wrightson. Mas há esse realismo meticuloso, assombrado, que se dissolve na água que tudo invade...brrr!!! Isto é, excelsior!!

domingo, 5 de julho de 2009

O Gato Preto- Segunda versão




No começo dos anos sessenta, começou o processo que levou à ressurreição dos quadrinhos de grande público via super-heróis, na Marvel e na DC por ela provocada. Já do meio pro fim, pela via da excelente editora Warren, o nascimento das revistas Creepy, Eerie e Vampirella trouxe o terror de volta. Num outro patamar de qualidade. As revistas eram grossas, cheias de histórias curtas, muito bem desenhadas, e com texto bem melhor que o novelão dos superseres, tal como realizado da época. As tremendas revistas da Warren (de James Warren) eram feitas em formatão, com a maioria do seu material em preto e branco, e capas pintadas. O nível gráfico superior, e o diminuto número de páginas encomendado a cada desenhista, por edição, fazia com que, via de regra, o rendimento do material fosse bem alto. Imagino que fossem proporcionalmente mais bem pagos, ou tivessem prazos melhores... o fato é que, na Warren, diversos nomes do mercadão se esmeravam ; seu trabalho, ali, era outra coisa! Quando descobri as revistas deles numa banca de jornal de Copacabana, nos fins dos anos 70, fiquei maravilhado! Mais ainda, poucos anos depois, quando a RGE lançou a edição brasileira, a Kripta, da qual se fala até hoje... A Kripta, eu creio, foi principalmente a Creepy, já que nem a Vampí nem os personagens seriados da Eerie davam as caras... Sim, amiguinhos, muito do material da Warren jamais foi traduzido, embora boa parte tenha sido... Por exemplo, o grosso da produção do Rich Corben para eles, como foi toda colorida (e que cores!! Nós vamos ver...), não passou nem perto de uma versão brasuca decente... É um fato eloquente que os primeiros colaboradores da Warren fossem todos veteranos dos EC Comics. As revistas retomaram e atualizaram seu projeto editorial, com a diferença de que não havia receio de material tradicional. O escritor mais adaptado pra hq pela EC foi Ray Bradbury, nos anos 50 publicando o filé de sua produção... um autor contemporâneo dos gibis que beberam na fonte do seu texto! Já a Warren primeiro saiu com os vampiros, mas, logo, logo, descobriu... Poe!!! Sim, o nosso bom confrade Edgar Allan!! A Warren não tinha medo de falar de racismo ou outros temas relevantes em seu momento histórico. "Thrillkill", de Neal Adams, sobre um serial killer em cima de um telhado, permanece bem atual( e magistral). Mas os editores, de Archie Goodwin a Budd Lewis, compreenderam era que o diferencial estava era no tratamento , fosse o tema clássico ou moderno, pra época... Sem medo de polêmica mas sem medo de agradar todo mundo... Também saíam várias histórias de FC, o que nos anos 50 caberia numa revista SÓ de FC, mas nos 70 conviveu muito bem, por exemplo, com os contos de Poe, muitos, muitos, adaptados para hq... e o horror contemporâneo, também! Os exemplos que ilustram o post de hoje vêm da adaptação com que o imenso Bernie Wrightson, ainda em 1974, inaugurou a abordagem de Poe nas revistas da editora. O conto escolhido pra virar hq foi "O gato Preto", nesse impressionante, adequadíssimo p&b!! Isso portanto foi antes de criar o Monstro do Pântano junto com Len Wein, e bem antes do seu muito aplaudido Frankenstein ilustrado... Aqui sim, como na mão do Colin, Poe recebeu o tratamento que mereceu... Todas as imagens fortes do conto estão na hq, e muito bem realizadas!! E todas aparecem só na sua hora ... Podem comparar com as imagens criadas pra primeira versão em hq desse conto, no mês passado, nesse blog... O título do post é "O Gato Preto, primeira versão"!! A imagem de fechamento da hq nas duas versões é a mesma, mas o tratamento...que diferença!!! Wrightson sabe dar o ritmo de uma hq... O único plano aberto na hq que não contém uma das imagens fortes do conto é a imagem de abertura, mostrando a paz com que o desgraçado vai romper... Bernie Wrightson, nessa época, não era só um grande desenhista, mas um tremendo narrador também! O ritmo com que sua versão se desdobra é muito mais bem trabalhado que o da primeira!! Eu cá comigo reitero: espero em deus que Wrightson também tenha sido muito melhor pago!! O seu trabalho nessa hq foi de um outro nível! Aqui, podemos ver o trabalho de um membro do primeiro time em estado de graça... Evoé! Excelsior!Hurra!

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Testemunho do Colin


No post de ontem, falei um bocado do trabalho do Colin, a parte relativa ao terror, mostrei pedaços das duas adaptações de contos de Poe que ele realizou. Não posso deixar de dar mais um feriado ao padrinho literário desse "mês", o grande Poe, contudo, porque Colin da minha parte também demanda um testemunho mais pessoal, além das observações que fiz sobre seu trabalho . Faz muitos anos tenho sobre o dito as opiniões que tenho. Sempre achei que, num mercado mais hospitaleiro, por pouquinho que fosse, teria sido bem melhor remunerado. Entrevistei pro já antigo documentário televisivo sobre quadrinhos que ajudei a realizar, e pra programa de evento no qual trabalhei, essas coisas, sempre travando excelentes conversas. Bem, o mundo gira, a Lusitana roda. Em 2001, eu morava na Bahia e vinha ao Rio passar feriados aqui. Bem, em Março daquele ano, fui internado num hospital, passei oito meses lá, brigando com uma pancreatite (algumas) que acabou(aram) me tornando diabético, mas isso não passou de percalço. Inclusive, hoje já colaboro com gente que naquela época nem conhecia. Mas os eventos me fizeram emagrecer bastante, e, por um tempo, fiquei positivamente escaveirado, em 2002. Num supermercado, uma ex-colega de faculdade não me reconheceu. Só depois que eu disse seu nome ela me olhou a cara com calma. Bem, naquele ano, em convalescença, fui a Teresópolis ficar uns dias na casa dos meus pais. Pois não é que eu estava passeando, na rua, e o Colin me reconheceu?! Eu sabia que ele morava lá, mas não sabia onde, nem nada. Foi um encontro casual. Ele ficou impressionado com minha aparência, expliquei logo o que havia acontecido. Acabou me convidando para ir na sua casa ! Dessa vez pudemos conversar um bom bocado, e foi uma grande tarde. Ainda consegui repetir a visita. Fiquei de voltar outras vezes, mas pouco mais de um mês depois, ele sim deixou nossa companhia... o mundo gira, a lusitana roda! Tornei-me companheiro da Juliana Carvalho, e a Sophia nasceu, iluminando nossas vidas. Já tem três aninhos, e é linda. Uma das primeiras vezes em que, já andando, entrou comigo numa banca de jornal (fato nada raro) foi quando publicaram, póstumo ao seu autor, o álbum "O Curupira". Este traz algumas hqs coloridas do Colin e a cara do Curupira bem grande na capa. Não é que a Sophia viu primeiro que eu, pulou em cima e o escolheu, quase antes que eu visse? Sim, hoje aquincasa tem dois exemplares... Excelsior!!!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Berenice, Metzengerstein e Flavio Colin




No post anterior, eu disse que chegou a hora do quadrinho de terror. Tudo em torno do fim dos anos 50 e começo dos 60, com um ressurgimento nos 70, embora nos EUA desde o começo dos 50 o gênero existisse. No Brasil, vivenciamos isso de maneira bem parecida. Claro que em lugares como a Argentina ou a Europa em geral, houve e há vários tipos de quadrinhos que estimulam o rendimento da criatividade e dos talentos radicais. No Brasil, contudo, o quadrinho de terror foi o baluarte dos desenhistas mais afeitos à aventura que à piada, os que entendem melhor a necessidade de pesquisa. Também houve quadrinhos de guerra, mas nunca com o mesmo público que os de terror. A carreira de Flavio Colin, como a de alguns outros gigantes à la Nico Rosso ou Jayme Cortez, entre seus antecessores, e entre seus contemporâneos, Julio Shimamoto, reflete bem isso. Teve fases de grande produtividade ainda nos anos 50 (Outubro), saiu desse mercado com sua queda(dos gibis de terror em geral) e retomou depois a partir dos 70. Colin saiu da aposentadoria com a Vecchi (Spektro, Pesadelo) e depois do sumiço desta, no terror, fez morada na editora de Rodolfo Zalla, a D´Arte, onde foi ,sim, um dos "Mestres do Terror"! As ilustrações de hoje são representativas da presença de Poe no Brasil. As pgs pequenas devem ser da época da Outubro, embora eu as tenha remontadas numa Spektro . Vêm de uma belíssima adaptação de "Berenice". Os pedaços que botei aí dão uma idéia de como Colin soube fazer seu traço render, de um modo informado. Seu romântico é gótico, suas sombras são psicológicas, não "realistas". Prestou tremendo serviço a Poe mesmo sem dar o close nos dentes de Berenice que o texto do autor sugere...cautelas da época puritana! Já as duas pgs que tomaram conta desse post vêm de uma adaptação de "Metzengerstein" roteirizada pelo Júlio Emílio Braz e desenhada por Colin ainda nos anos 80, mas que só saiu no álbum "Filho do Urso e outras histórias", de 2003. Coisas do mundo editorial brasuca. Aqui o mestre não segurou a mão e realizou a imagem que Poe levou o conto todo construindo, a saber, a fumaceira emergindo do castelo incendiado e sugerindo o cavalo que impressionou tanto o protagonista, Frederick Metzengerstein. Pode-se argumentar que isso exige é o plano aberto que ele de fato faz, não o close dos dentes de Berenice. Mas a imagem central da história não sumiu... Estou dizendo que Poe passava boa parte do tempo construindo uma imagem específica. Seria bom dar destaque a ela, de modo condizente...mas e o "bom gosto" do comecinho dos anos 60?? Por outro lado, terá sido involuntária, a semelhança fisionômica entre Metzengerstein, no traço do Colin, e o Fabuloso Ota??? Verdade que o personagem está mais alto e magro, mas...!!! Só não podemos ver, com base no post de hoje, que Colin ombreou com os principais bacanas gringos que fizeram Poe em hq, porque ainda não chegaram aqui no nosso seriado de aventura. Ninguém perde por esperar... Flávio Mavignier Colin, é óbvio , vai continuar atual e majestoso, como sempre foi, por mais uns cinquenta anos! Pode esperar mais um tiquinho, amigo leitor , só pra ver se eu não tô falando demais!!!

domingo, 28 de junho de 2009

Poe no Brasil- O Corvo, primeira versão, e A Máscara da Morte Rubra




Nos EUA e, em pouco, no resto do mundo, chegou a hora dos quadrinhos de terror. A obra de Edgar Poe a acompanhou. Foi adaptado em tudo quanto é canto. Claro que terá virado hq pela Europa afora. No hemisfério sul, tanto no âmbito da majestosa hq argentina como no da incipiente brasileira, dos anos cinquenta em diante, obedecendo às diferentes característica dos diferentes mercados, Poe com certeza passeou em muitos gibis. Em cada qual como pode. Por exemplo, no caso do Brasil as hqs feitas por brasileiros sempre tiveram que lutar muito, muitíssimo, para existir. Alguns abnegados, em condições de trabalho muito adversas, conseguiram produzir material de bom nível, embora tenha havido mediocridade também. Mas foram feitas por gente apaixonada pelo que fazia, o que supera muita coisa. Pelo outro lado, por muito tempo, por definição hq feita no Brasil foi em p&b. Claro que as capas não, razão por que esse belo trabalho do Carlos Chagas está aqui tão classudo. A adaptação "lenta" do Ricardo Leite pro Corvo, mantendo o poema inteiro, dá um clima romântico e sinistro da porra!!! A meu ver supera de longe o trabalho que o Gahan Wilson, ninguém menos, faria , anos depois, na nova "Classics Illustrated" dos anos 80. É que o Leite conseguiu uma solução de traço romântica e sinistra a um só tempo, sabendo tirar partido do fato que a revista da Vecchi era em preto e branco, e sem perder o jeitão de hq do seu trabalho,que, no fundo, no fundo, foi de ILUSTRAÇÃO. O rosto do Poe ele explorou melhor do que o movimento do corvo... tem o mérito do pioneirismo. Eu nunca tinha visto ninguém aproximar poesia e hq antes. Mesmo que a versão do desenhista não seja, de todo, uma hq, impressionou e coube bem num gibi esperto como foi a Spektro. A outra ilustração do post de hoje é, mais indiscutivelmente, uma hq. Trata-se de pedaços de uma adaptação de "A Máscara da Morte Rubra", pelo Manoel Ferreira, também tirada da Spektro. Aqui podemos notar os problemas de se trabalhar com formatinho, fica tudo um pouco espremido, mas o traço do Ferreira deu conta do recado. Soube captar o andamento do conto e dar destaque adequado, na hora em que o anfitrião da festa entende quem é seu convidado misterioso, e lhe tira a máscara... Temos sempre que nos lembrar: não há comparação possível entre as condições de trabalho que esses brasileiros enfrentaram e as que os americanos tiveram. Não que para esses últimos fosse fácil, mas os brasileiros, pra pagar as contas,tinham que desenhar muito mais rápido!!! Ainda assim, como se vê aqui hoje e amanhã, os nossos compatriotas não fizeram feio ao dialogar com Poe, não! Excelsior!!!

quinta-feira, 25 de junho de 2009

A Luneta Mágica-nas minhas mãos!



Não houve jeito! Roído de vontade de ler meu trabalho impresso, voltei à livraria e comprei um exemplar da Luneta Mágica! Como o mundo funciona como o faz, claro que no dia seguinte recebi meus exemplares pelo correio. Bem, muito melhor ter demais que de menos! E agora a festa continua!!! Já posso postar a capa!!!Desde ontem alegre feito um crianção... O que me surpreendeu foi o material didático no fim do volume. Eles na editora devem ter apreciado o trabalho do Márcio quanto à pesquisa visual, porque fizeram a última pg de créditos e material didático falando que nosso livro dá um gostinho de como as pessoas se vestiam e comportavam naquela época. Também recebi uns elogios explícitos, no livro isso transparece na admissão de que não usamos os diálogos originais...Ninguém leria o coloquial do tempo do Macedo! Porisso é que fiz essa pausa no Poe. Ele tem que me perdoar, mas eu precisava comemorar. É um livro que eu compraria, se visse na livraria. As cores do Lucas ficaram muito bem tratadas na impressão , e nossos créditos também ficaram bacanas, com a editora se preocupando em explicar o que é um adaptador, no caso, eu, Márcio e Lucas. Isto usando aquelas caricas "do bem" que já postei aqui , logo no comecinho dos trabalhos do "enquanto isso"... Os nomes da gente só não tão na capa do livro, mas em todos os outros cabíveis. Acho que é a coisa correta, numa adaptação como essa: o nome do adaptado vem antes dos adaptadores.Interessante que dois diferentes amigos meus, o grande Paulo Donadio (que deu esses dias uma contribuição decisiva pra bibliografia do Poe em hq) e o Ricardo Favilla no ato reconheceram a influência do Crumb no traço do Márcio de Castro...Ambos dizendo isso de maneira elogiosa: pra estabelecer um traço, imitar quem nos impressiona não faz mal... Essa semelhança, pra eles ,deve ter sido mais fácil de ver porque o trabalho foi feito num registro cômico. O que será que as pessoas vão pensar, quando virem " O Cortiço"...? Uuups!! Bem, bem calma, por enquanto, tamos felizões com a presença da Luneta Mágica nas livrarias mais bacanas das cidades sortudas os suficiente pra ter uma...E, sim! Vamos conferir, sim, que o mês de Poe continua pelo que vem adentro!!!! Excelsior!!