terça-feira, 25 de maio de 2010

Anno Dracula

 É impressionante esse livro do Kim Newman...eu já tinha lido faz um tempo, agora foi lançado em português,  aproveitei pra reler.  Presta-se muito bem a uma pausa no trem de realismo e romantismo em hqs de aventura, por que tenho viajado esses dias.  A edição brasileira tem uma vantagem quanto à minha, um pocket. A edição brasuca traz, entre outros extras, um atlas dos coadjuvantes, quase todos personagens pré- existentes.  O livro tem em comum com qualquer atitude realista o alto nível da sua pesquisa. Esse atlas mostra ao leitor mais desavisado que por parte do elenco nãoi foi criado para o livro, está lá reinterpretado. Como realiza isso numa narrativa muito ágil e bem construída, é leitura instigante! Não se trata só de dizer que Dracula se tornou Príncipe Consorte da  rainha Vitória. Em torno deles, estão presentes os mais variados vampiros, seus antepassados nesse estilo de literatura. Só falta o horla (vampiro psíquico criado por Guy de Maupassant, presente em todas as boas antologias de literatura sanguessuga). Porque Carmilla está lá, e também lord Ruthven ...  entre outros! São personagens de folhetim ou mitológicos, que a primorosa pesquisa de Newman faz render muito bem, compo parte de uma sociedade que se vê transformada, e no caso, transtornada também. A hipótese que aventa, para a identidade de Jack o Estripador, se coaduna com essa lógica de vampirizar não só os folhetins prévios, como o registro da época na sua cultura popular. Tudo isso com uma visão crítica do império britânico e dos impérios, em geral. E  é uma grande sacada, muito bem realizada! O tipo do livro que exigiu paciência e amadureceu, dentro do autor. São vampirizadas não só as histórias de vampiro, mas a ficção popular vitoriana.  Assim, até o elenco de apoio de Sherlock Holmes dá  as caras, junto com personagens de H.G. Wells e Robert Louis Stevenson. Em suma,  esse livro está pro mundo dos vampiros assim como "Tarzan Alive", do Philip José Farmer, está pro mundo dos heróis de folhetim. O que não é dizer pouco! O Gerson Lodi-Rinbeiro, escritor brasileiro que gosta de trabalhar com história alternativa, chama esse jogo de "Ficção alternativa", já que trabalha um ponto de variação não a partir de momentos da suposta "história real" , mas a partir do folhetim antigo. "O que aconteceria se Dracula tivesse vencido Van Helsing?" É a pergunta que se faz, em vez de "O que aconteceria se a informática tivesse acontecido na era vitoriana"? Ambas são válidas, dão boas histórias. Caracterizam  a  dita "ficção alternativa" e  a "história alternativa". A segunda, de onde puxei a premissa, é exemplificada por "The Difference Engine" de William Gibson e Bruce Sterling, que trabalha com a premissa da informática. Tudo excelente leitura, e o que é mais impressionante, hoje em dia, passível de ser achado em português do Brasil...eu acho bom sinal. Também acho, com diversos outros que se "arriscam na caneta", que o momento contemporâneo pode ser uma abertura de caminho pra quem fizer a FC brasuca participar da busca, um tanto espinafrada, esbanifrada, mas busca, que se nota sim, pela cara do Brasil. Ou é bobgaem isso, peça do meu museu? Queria ter relações mais próximas com mercado livreiro...isso é, eu e a torcida do flamengo, né isso? Excelsior ! Evoé! Volte sempre!

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