quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Perpétuo bem na hora- Parte 2



E aí, é isso, um episódio logo depois do outro! Quem quiser saber o fim do conto que dá título ao post de ontem e ao de hoje, pode vê-lo aqui! Quem quiser prosseguir lendo a hq ganhou mais duas páginas pra se divertir! Eu sinceramente espero que o distinto leitor se divirta muito, nos dois departamentos! Persistir leva a bons resultados! E, agora, sem mais, vocês já podem soltar o fôlego, vem aí...

PERPÉTUO BEM NA HORA- Segunda parte
Alguns minutos depois, tão brusco quanto mais cedo, Valdemar se levantou. Seu gesto acordou Perpétuo, que estranhou muito ter dormido, feito um amador. Ele e os outros riram da situação, antes de notar o sumiço de Valdemar. Perpétuo, com um palavrão, colocou o paletó e saiu porta afora. Sabia aonde ir, ao contrário dos outros espantados. Quando chegou no canal de TV, agora no seu próprio carro, notou o da polícia estacionado logo à frente. Estava ao lado de uma porta aberta, na calçada das entradas dos técnicos. O vigia adormecido ao lado dela, as pernas estendidas, encarapitado numa cadeira da qual não caía por milagre. Sono pesado como o seu e o dos colegas. Perpétuo prosseguiu pelos corredores escuros, atrás do Valdemar. Conseguiu chegar a tempo de vê-lo ainda numa dobra do corredor se alongando. Havia gente trabalhando ali, embora menos que durante o dia. Conseguiu se orientar. Chegou à porta aberta da ampla sala que seu colega havia inesperadamente descoberto, mais cedo. E pela qual acabava de entrar, de novo.
Perpétuo foi atrás e estacou. Não houve jeito. A cena o surpreendeu. O amplo espaço não era mais um estúdio fechado, e sim uma muito freqüentada sala de roleta. Nela, pontificava uma das ditas, majestosa, cercada de jogadores entusiasmados. Ladeada de duas mesas de pôquer, o que tornava tudo movimentado. Perpétuo achou que era um cassino clandestino. Mas não havia nada de discreto no lugar, nem nas pessoas. Embora ninguém estivesse na última moda. Olhou com mais atenção, e viu que o lugar todo tinha jeito antigo. Coisa de vinte anos antes. Chegou perto da mesa. Valdemar estava sentado lá, aclimatado como se tivesse chegado horas, e não meros minutos antes. Sua expressão facial inédita. Quando Perpétuo esticou os olhos pelo corredor atrás de si, entendeu que havia mistério em ação. Pois no corredor estava muito mais gente, circulando a caminho dos outros ambientes de jogo do vasto cassino.
Perpétuo se deixou ficar na área, espantado. De olho no colega transtornado. Já tinha trabalhado algumas vezes com Valdemar. Ele não era assim. Viu que não estava bem. Acompanhava, febril, a roleta. Suava frio. Entre uma mão e outra, recolheu suas pedras, que não eram poucas, mas estavam reduzidas a menos da metade. Entendera alguma coisa. Quis parar de jogar. Levou as fichas para o caixa, na salinha envidraçada, para recolher o que sobrava de seu dinheiro. Com toda a educação e gentileza, tentaram convencê-lo a voltar para a roleta. Não conseguiram nada. Ele suava frio. Exigiu seu dinheiro. Os camaradas fingiram se render, deixaram que enchesse os bolsos. As cuecas. As meias. Ele se soprava todo. Perpétuo notou que Valdemar não estava nem um pouco parecido consigo mesmo. Já o vira alarmado muitas vezes. Tinha até visto maravilhado, na perspectiva de ganhar muito dinheiro de uma vez só. Foi quando o cavalo em que apostou quase ganhou a corrida. Perpétuo sorriu ao lembrar. Então viu o colega apressado, na direção da saída. Ficou parado com o susto. Estava muito mudado. Não podia ser o Valdemar. Foi atrás. Havia umas inesperadas obras no cassino (anunciadas por cavaletes e escadas no caminho), que os fizeram seguir por caminhos mais discretos. Lá na frente, esperavam-nos. Já surpreendeu tremenda altercação entre Valdemar e os leões de chácara. Deram-lhe uns tabefes, ele bateu na parede e caiu no chão. Começaram a depená-lo. Ainda ensaiou reação. Tiraram uma arma do bolso e a encostaram no seu nariz. Valdemar chorou alto, perderam a paciência.
Perpétuo até ali paralisado, sem entender como. Uma força maior queria que ele visse. E agisse de acordo? Mas estava claro: aquilo tudo já tinha acontecido. Até a densidade das pessoas estava diferente. Mas Perpétuo investiu. Um dos leões de chácara tinha um jeito mais carnal, parecido com o dele e o de Valdemar. Viu, pela densidade de sua presença, que ainda estava ali, corporalmente, bem mais velho, claro, e ainda como segurança. De lugar bem mais calmo, um canal de TV, afinal. Estava possuído pela cena do cassino também, revivendo sua juventude.
Levou um pé na cara, da parte do Perpétuo, bem na hora, antes de dar seu tiro por baixo do nariz de Valdemar, agora com os olhos muito arregalados. O camarada tomou mais alguns prontos sopapos de Perpétuo, enquanto Valdemar, aos poucos, e só agora, voltava a si. Não lembrava de nada. Perpétuo, enquanto os três tomavam caminho pelos corredores da emissora, não deixou que o segurança notasse. Mas o homem, mais que um pouco surpreso, estava apavorado. Não sabia como tinha provocado a polícia, e logo o Perpétuo. Demoraram um pouquinho mais a encontrar o caminho da saída. Estava muito mais velho, pensou melhor do que teria feito na juventude. Deu a Perpétuo todas as dicas para achar quem, ainda hoje, à sombra das glórias passadas, mantém cassino clandestino e precisa de segurança decidido. Depois foi solto, bastante surpreso, com alguns dentes a menos e muitas dores a mais, além de desempregado. Deixou os telefones com Perpétuo. Nunca entendeu que não poderia ser acusado de nada, por aqueles dois curiosos canas.

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