segunda-feira, 27 de julho de 2009

O Corvo- Segunda versão





O ano era 75 ou 76. Foi na Avenida Copacabana, no caminho entre a casa dos meus pais e a da minha vó, tinha essa enorme banca de jornal que ainda hoje tá lá, bem mais normalizada que naquela época. Nos finais dos anos 70, era o que eu chamava de um lugar cosmopolita, e achava o máximo frequentar. Entrava numa que estava no meio do mundo!!! Tinha jornais em inglês, espanhol, francês, alemão e italiano. E revistas em todas essas línguas também, todos os gibis americanos de super-heróis, os da Warren todos, além das francesas Pilote e Spirou. Um lugar que ampliou decisivamente meu horizonte quadrinhológico, e uma das histórias que me deixou impressionado de fato é essa versão do Corvo, de Poe, pela titânica dupla formada por Corben, então se assinando Rich Corben, e o roteirista Rich Margopoulos. Me lembro que fiquei de cara com o trabalho do Corben, que com seu jeito pintado, seu trabalho de sugestão das massas (de personagens e cenografia) com as cores, me deixou desarvorado. Ainda demorou uns anos, até eu conhecer o grande Cesar Lobo,e frequentar seu estúdio, pra entender que a magia do Corben se chama (chamava?) aerógrafo. Pra quem ainda hoje não sabe, o aerógrafo é uma caneta que te permite não só controlar a direção do traço, tal como as outras, mas também sua espessura. Depois, muuito depois, é que chegaram os photoshops da vida. Mesmo assim, tantos anos depois, tendo entendido tantas coisas sobre os processos técnicos envolvidos, a feitiçaria visual do cara continua me deixando abestado. Num tem pra aquarela de ninguém!!! Também demorou um tempo pra eu descobrir que ele vinha dos undergrounds, e depois que eu o fiz achei difícil imaginá-lo do lado de Crumb ou S. Clay Wilson... Também inda não sabia que houve undergrounds e undergrounds, nem todo mundo era humorista. O mundo não era só "Zap", certo, existiam também "Slow Death" e "Fantagor", entre muitas outras! No entanto, a Warren foi onde Corben encontrou o grande público pela primeira vez!!Talvez essas informações sejam espantosas, pra quem viu os trabalhos recentes do Corben no Hulk, no Luke Cage ou no Hellboy. Mas ele, como muitos outros desenhistas , dizia na época que jamais teria espaço pra fazer as hqs que queria no universo dos superseres... Isso eu posso perfeitamente entender. O ambiente hoje é diferente, Joe Quesada não é Jim Shooter. O Den, personagem nuzão do Corben, o protagonista de "Neverwhere", de fato não poderia ter saído numa revista da Marvel, nem nas da época nem nas de hoje!! Além da nudez de homens e mulheres, a hq é difícil de acompanhar. O roteiro era muito doido, destrambelhado mesmo!! "Neverwhere", por mais majestoso que seja seu desenho, ainda hoje me decepciona, uma vez que Corben, de todos os desenhistas americanos, é um dos que mais e melhor realizou adaptações literárias...e ali ele estava a fim de desenhar!!! Eu esperava que, lendo tanta gente boa, como leu, desenvolvesse um texto seguro... Mas Corben trabalha bem, mesmo, é com textos alheios. Acho que hoje ele sabe disso,e o número de vezes que trabalhou com excelentes roteiristas como Jan Strnad e Simon Revelstroke o acusa. Gente que raramente trabalhou com outros desenhistas. Poe mesmo lhe emprestou alguns textos , como estamos vendo hoje, e ainda vamos ver mais. Além disso, Corben adaptou pras hqs autores de alta categoria como Harlan Ellson, Ray Bradbury, e Robert E. Howard (que, se não é do primeiríssimo time como os outros dois, rende ótimas hqs, como sabemos todos os fãs de Conan o Bárbaro) além de alguém mais, que estou esquecendo. A adaptação que ilustra o post de hoje também me comoveu por causa do ritmo , da manutenção do andamento do poema original com um vocabulário simplificado, deixando a complexidade para o desenho... e isso, não nos iludamos, vem da carpintaria do roteiro!!! Rich Margopoulos acertou a mão muito bem acertado, e Corben, que ainda voltaria mais vezes a Poe, aqui botou sua arte pra render mesmo. Como foi uma das primeiras hqs que não era de super-heróis que eu li, num dos primeiríssimos gibis da Warren que vi, foi uma experiência e tanto! Muita ousadia de uma vez só!! Foi das primeiras hqs que me mostrou como elas podem render resultados de altíssima qualidade...de tanto manusear meu exemplar da Creepy 68, o original em que essa hq saiu, ele ficou meio destruído, mas o grande Bola me arrumou esses scans espanhóis... Mas nós vamos voltar a certas pgs que estão aqui conosco hoje, por causa de problemas de rendimento da imagem que vale a pena discutir... Por enquanto, ainda cabe comentar que a edição brasileira da Creepy, a saudosa Kripta, da RGE, não ousou traduzir as histórias coloridas da Creepy... não teria conseguido fazer justiça a materiais como esse ou o do Reed Crandall no post anterior! De modo que ainda cabe dizer sim, que existem muitas facetas dos quadrinhos da Warren que nunca foram vistos direito aqui ou em Portugal... enfim! Assim caminha a humanidade!! Ou melhor ainda, cheio de entusiasmo pela qualidade da arte que vi... Excelsior ! Viva, viva Corben, que me mostrou não ser preciso vestir as cuecas dos personagens por fora das calças deles pra realizar tremendas histórias de ação...Sim! Excelsior!!!

segunda-feira, 20 de julho de 2009

O Coração revelador- Segunda versão






"O Coração Revelador" também chegou aos quadrinhos nos gibis da Warren, que passaram a ter, depois de um certo ponto, uma curta seção colorida em cada edição. Mais uma vez, a experiência pioneira esteve nas mãos de Archie Goodwin e Reed Crandall, que devem,sim, ter ficado bem felizes de ver seu trabalho em papel branco, uma raridade na época. Gibi naquele tempo, os anos setenta, era coisa de segunda, e portanto não tinha vida comercial que bancasse certos valores altos de impressão.Só gente boa ganhava papel branco e co-res, na Warren!! Goodwin , por seu lado, tinha uma prosa concisa e atenta muito mais às necessidades narrativas que a história passava a ter, uma vez trazida pros quadrinhos, do que a qualquer "fidelidade" à letra do texto original. Sua fidelidade era à intenção de Poe: assustar. Quando menino, Goodwin, como Will Eisner, terá sido leitor não só de Poe, mas de muitos outros contistas americanos, como O. Henry e Damon Runyon. O folhetim e o conto andaram muito de mãos dadas nas publicações populares dos EUA, e a noção de colocar sempre uma nova surpresa no final de uma narração é mais típica de O. Henry( que Eisner cita como influência assumida) do que de Poe, mas tudo se mistura. Americano, a seu modo, também aprecia um Carnaval . Assim, não é de estranhar que, nessa adaptação, Goodwin tenha acrescentado mais um detalhe à narração de Poe. Um segundo final, por assim dizer. O mordomo do velho do olho duro, o pobre diabo que se vê assombrado por aquele desconfortável detalhe na aparência de seu patrão, não só endoida por conta disso (com esse "mote"), como fica, depois que pula da janela e se suicida, com um olho duro que nem o do velho. Essa história de suicídio é invenção de Archie Goodwin! O texto de Poe trabalha o medo mesmo é no tomar de decisões do mordomo, que a hq mostra muito bem, e no diálogo surrealista dele com a polícia, antes que o bater do coração do defunto o force a se revelar. Essa parte a meu ver, ficou muito submetida à parte verbal da narrativa, nessa hq. Não tá bem mostrada, com o destaque merecido. A busca dos equivalentes visuais da angústia do desgraçado só foi até certo ponto. O principal fica dependendo do quase ilustrativo, de tão meticulosamente bem acabado, traço de Reed Crandall. De fato, é trabalho impressionante. Como se Hal Foster fosse um narrador mais ágil e desenhasse terror... A cor sublinha a narração direitinho, principalmente o lado emocional, mas como seu uso foi meio muito entusiasmado, então às vezes obscurece detalhes do traço do desenhista. No todo, o uso dessas cores, bem pouco à vontade, é um ponto bem mais fraco que as ousadias do roteiro, o qual só desagrada purista. Contudo, mas, porém , todavia, embora Reed Crandall, como podemos ver, e outros parceiros seus do tempo da EC, continuassem afiados, ainda não era com eles que a Warren ia inovar mesmo... Continua ,sim, no próximo e emocionante episódio!!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Os Assassinatos da Rua Morgue- Segunda versão




Nos finais dos anos setenta, depois de uma longa decadência em que Archie Goodwin saiu da editora e os veteranos da EC sumiram, sobreveio uma segunda era de ouro dos gibis da Warren. O que se deu foi que os editores, possivelmentew Budd Lewis, se é que era mesmo esse o nome do bacana, notaram existir um bom número de desenhistas em outros mercados do mundo,tão capazes quanto aqueles, e possivelmente mais baratos... Os espanhóis em particular, ficaram felicíssimos de serem pagos em dólar! Conviveram bom tempo com uns poucos americanos pouco afeitos a super-heróis. Gente de alte categoria abrilhantou as páginas desses gibis de uma forma nova. Estou falando de desenhistas de estirpe, como José Ortiz (o mais sombrio de todos, dono de longa carreira, ainda hoje em atividade, fazendo Tex) Estebán Maroto (conhecido no Brasil pelos Cinco por Infinitus, sua FC propriamente espanhola), Isidro Mones, Luis Bermejo, Adolfo Abellán, e o José Gonzalez, que estabeleceria o look definitivo da Vampirella, pouco depois de chegar na editora. Além de capistas como Enrico e Sanjúlian, que estiveram à altura de Frazetta como nenhum de seus substitutos americanos estivera, na editora, ao menos. E sim, é claro que toda essa gente adaptou contos de Poe pra quadrinhos, na Warren. As imagens no post de hoje vêm da segunda versão de "Os Assassinatos na Rua Morgue" que consegui encontrar. A primeira foi aquela dos "Classic Comics". Não se discute, é bem melhor que a primeira, sim!! Mas isso não é dizer muito. Essa nova versão foi realizada por José Ortiz, com roteiro de Rich Margopoulos. Ilustra muito bem o fato de que um excelente desenhista, apropriado ao tema, inclusive, não salva um roteiro ruim, ou limitado. Pena. O roteirista, que assina quase todas as adaptações que não foram escritas por Archie Goodwin, de costume fazia serviço melhor. Mas aqui ele remoçou tanto Auguste Dupin quanto o narrador do conto, na perspectiva de trazer mais ação aos acontecimentos, imagino. Engano. O conto precisa dos raciocínios, não das correrias. Além disso, Margopoulos fez acontecerem os assassinatos quase embaixo dos narizes dos personagens. Parece que foi sorte eles descobrirem a verdade dos fatos, não esforço. Ou seja: só manteve os aspectos terroríficos do conto original, eliminando aquilo que, no texto de Poe, constituiu a inauguração da literatura policial ou detetivesca, cujo principal personagem viria a ser Sherlock Holmes. Não acho que seja uma boa opção escangalhar com aquilo que Poe e diversos leitores consideram a parte mais singular de seu trabalho, a literatura de raciocínio. O que faltava talvez fosse um número maior de páginas, para que as imagens pudessem acompanhar mais de perto, mais devagar, o movimento na cabeça do narrador. Como acompanha na do macaco, quando chega a hora. A opção por acelerar o ritmo deu certo, não há dúvida, quanto aos aspectos terroríficos do conto. Mas fazer acontecer tudo de uma vez só, sem se deter na investigação nem um pouquinho, faz parecer muito "sortudos" Dupin e o seu confrade narrador. Por outro lado, aqui no post está uma das melhores partes da história, quando tudo se passa através dos olhos do macaco apavorado que comete as besteiras... O efeito da quase repetição de certas imagens, e do tamanho de todos os quadros nessa pg, é enorme. Quase compensa as faces jovens demais dos protagonistas no quadro de abertura,logo acima. A vida é dura! Mesmo os bons se enganam! Talvez não valha a adaptar o que não se rende à adaptação...Ou então fazê-lo com cuidado...

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Epa! O Barril de Amontillado!






O post de hoje é cheio de pedidos de desculpas. Começo pedindo-as pela qualidade de alguns dos scans que sou forçado a exibir. isso é para não escangalhar muito certos gibis destroçados que têm bravamente cumprido seu dever, esses dias. O de mostrar as páginas nesse posto de observação, às vezes sofrendo amassões e puxões além do chamado do dever. Mas não há outro jeito...Já o segundo pedido de desculpas vem do fato de que achei que a versão do Gato Preto por Bernie Wrightson, de 74, inaugurava o caso de amor da Warren com Poe, nosso Edgar Allan. Mas fui fuçar com mais atenção e encontrei adaptação bem mais antiga. Sim, feita em gibi da Warren! Ainda do meio dos anos sessenta, a época em que Archie Goodwin era o editor e principal roteirista. Reed Crandall, o desenhista, era um veterano da EC Comics, parceiro de nomes como Wally Wood, Johnny Craig, John Severin, George Evans, Bill Elder, e muitos outros papas do realismo em hq. Muitos deles voltaram a fazer horror quando James Warren criou suas revistas, Creepy, Eerie e Vampirella. Com certeza Crandall em especial estava contente, pois deu o melhor de seu traço meticuloso para essa adaptação do Barril de Amontillado, a primeira para os quadrinhos. A Warren ampliou o repertório!! Podemos dizer que se trata de uma hq de época realizada com o maior capricho.Goodwin sabia convidar o desenhista certo pra tarefa adequada. A única imagem aterrorizante nesse conto, é a do final. Então , com o maior acerto, Crandall, como Poe, se dedicou a evocar os desvãos da vasta adega na qual acontece a ação da narrativa. No fim desta, entendemos que tais desvãos também são os da mente do narrador, que se tornou matador... e que ele se dá mal por ficar lá conversando com o camarada que emparedou. É como no "Crime e Castigo", do Dostoievski: voltar à cena do crime leva ao desastre... Aqui, o matador perde o caminho de volta enquanto a adega se inunda... nada de sobrenatural se passou, e não há nem sombra de recurso ao expressionismo de Wrightson. Mas há esse realismo meticuloso, assombrado, que se dissolve na água que tudo invade...brrr!!! Isto é, excelsior!!

domingo, 5 de julho de 2009

O Gato Preto- Segunda versão




No começo dos anos sessenta, começou o processo que levou à ressurreição dos quadrinhos de grande público via super-heróis, na Marvel e na DC por ela provocada. Já do meio pro fim, pela via da excelente editora Warren, o nascimento das revistas Creepy, Eerie e Vampirella trouxe o terror de volta. Num outro patamar de qualidade. As revistas eram grossas, cheias de histórias curtas, muito bem desenhadas, e com texto bem melhor que o novelão dos superseres, tal como realizado da época. As tremendas revistas da Warren (de James Warren) eram feitas em formatão, com a maioria do seu material em preto e branco, e capas pintadas. O nível gráfico superior, e o diminuto número de páginas encomendado a cada desenhista, por edição, fazia com que, via de regra, o rendimento do material fosse bem alto. Imagino que fossem proporcionalmente mais bem pagos, ou tivessem prazos melhores... o fato é que, na Warren, diversos nomes do mercadão se esmeravam ; seu trabalho, ali, era outra coisa! Quando descobri as revistas deles numa banca de jornal de Copacabana, nos fins dos anos 70, fiquei maravilhado! Mais ainda, poucos anos depois, quando a RGE lançou a edição brasileira, a Kripta, da qual se fala até hoje... A Kripta, eu creio, foi principalmente a Creepy, já que nem a Vampí nem os personagens seriados da Eerie davam as caras... Sim, amiguinhos, muito do material da Warren jamais foi traduzido, embora boa parte tenha sido... Por exemplo, o grosso da produção do Rich Corben para eles, como foi toda colorida (e que cores!! Nós vamos ver...), não passou nem perto de uma versão brasuca decente... É um fato eloquente que os primeiros colaboradores da Warren fossem todos veteranos dos EC Comics. As revistas retomaram e atualizaram seu projeto editorial, com a diferença de que não havia receio de material tradicional. O escritor mais adaptado pra hq pela EC foi Ray Bradbury, nos anos 50 publicando o filé de sua produção... um autor contemporâneo dos gibis que beberam na fonte do seu texto! Já a Warren primeiro saiu com os vampiros, mas, logo, logo, descobriu... Poe!!! Sim, o nosso bom confrade Edgar Allan!! A Warren não tinha medo de falar de racismo ou outros temas relevantes em seu momento histórico. "Thrillkill", de Neal Adams, sobre um serial killer em cima de um telhado, permanece bem atual( e magistral). Mas os editores, de Archie Goodwin a Budd Lewis, compreenderam era que o diferencial estava era no tratamento , fosse o tema clássico ou moderno, pra época... Sem medo de polêmica mas sem medo de agradar todo mundo... Também saíam várias histórias de FC, o que nos anos 50 caberia numa revista SÓ de FC, mas nos 70 conviveu muito bem, por exemplo, com os contos de Poe, muitos, muitos, adaptados para hq... e o horror contemporâneo, também! Os exemplos que ilustram o post de hoje vêm da adaptação com que o imenso Bernie Wrightson, ainda em 1974, inaugurou a abordagem de Poe nas revistas da editora. O conto escolhido pra virar hq foi "O gato Preto", nesse impressionante, adequadíssimo p&b!! Isso portanto foi antes de criar o Monstro do Pântano junto com Len Wein, e bem antes do seu muito aplaudido Frankenstein ilustrado... Aqui sim, como na mão do Colin, Poe recebeu o tratamento que mereceu... Todas as imagens fortes do conto estão na hq, e muito bem realizadas!! E todas aparecem só na sua hora ... Podem comparar com as imagens criadas pra primeira versão em hq desse conto, no mês passado, nesse blog... O título do post é "O Gato Preto, primeira versão"!! A imagem de fechamento da hq nas duas versões é a mesma, mas o tratamento...que diferença!!! Wrightson sabe dar o ritmo de uma hq... O único plano aberto na hq que não contém uma das imagens fortes do conto é a imagem de abertura, mostrando a paz com que o desgraçado vai romper... Bernie Wrightson, nessa época, não era só um grande desenhista, mas um tremendo narrador também! O ritmo com que sua versão se desdobra é muito mais bem trabalhado que o da primeira!! Eu cá comigo reitero: espero em deus que Wrightson também tenha sido muito melhor pago!! O seu trabalho nessa hq foi de um outro nível! Aqui, podemos ver o trabalho de um membro do primeiro time em estado de graça... Evoé! Excelsior!Hurra!

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Testemunho do Colin


No post de ontem, falei um bocado do trabalho do Colin, a parte relativa ao terror, mostrei pedaços das duas adaptações de contos de Poe que ele realizou. Não posso deixar de dar mais um feriado ao padrinho literário desse "mês", o grande Poe, contudo, porque Colin da minha parte também demanda um testemunho mais pessoal, além das observações que fiz sobre seu trabalho . Faz muitos anos tenho sobre o dito as opiniões que tenho. Sempre achei que, num mercado mais hospitaleiro, por pouquinho que fosse, teria sido bem melhor remunerado. Entrevistei pro já antigo documentário televisivo sobre quadrinhos que ajudei a realizar, e pra programa de evento no qual trabalhei, essas coisas, sempre travando excelentes conversas. Bem, o mundo gira, a Lusitana roda. Em 2001, eu morava na Bahia e vinha ao Rio passar feriados aqui. Bem, em Março daquele ano, fui internado num hospital, passei oito meses lá, brigando com uma pancreatite (algumas) que acabou(aram) me tornando diabético, mas isso não passou de percalço. Inclusive, hoje já colaboro com gente que naquela época nem conhecia. Mas os eventos me fizeram emagrecer bastante, e, por um tempo, fiquei positivamente escaveirado, em 2002. Num supermercado, uma ex-colega de faculdade não me reconheceu. Só depois que eu disse seu nome ela me olhou a cara com calma. Bem, naquele ano, em convalescença, fui a Teresópolis ficar uns dias na casa dos meus pais. Pois não é que eu estava passeando, na rua, e o Colin me reconheceu?! Eu sabia que ele morava lá, mas não sabia onde, nem nada. Foi um encontro casual. Ele ficou impressionado com minha aparência, expliquei logo o que havia acontecido. Acabou me convidando para ir na sua casa ! Dessa vez pudemos conversar um bom bocado, e foi uma grande tarde. Ainda consegui repetir a visita. Fiquei de voltar outras vezes, mas pouco mais de um mês depois, ele sim deixou nossa companhia... o mundo gira, a lusitana roda! Tornei-me companheiro da Juliana Carvalho, e a Sophia nasceu, iluminando nossas vidas. Já tem três aninhos, e é linda. Uma das primeiras vezes em que, já andando, entrou comigo numa banca de jornal (fato nada raro) foi quando publicaram, póstumo ao seu autor, o álbum "O Curupira". Este traz algumas hqs coloridas do Colin e a cara do Curupira bem grande na capa. Não é que a Sophia viu primeiro que eu, pulou em cima e o escolheu, quase antes que eu visse? Sim, hoje aquincasa tem dois exemplares... Excelsior!!!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Berenice, Metzengerstein e Flavio Colin




No post anterior, eu disse que chegou a hora do quadrinho de terror. Tudo em torno do fim dos anos 50 e começo dos 60, com um ressurgimento nos 70, embora nos EUA desde o começo dos 50 o gênero existisse. No Brasil, vivenciamos isso de maneira bem parecida. Claro que em lugares como a Argentina ou a Europa em geral, houve e há vários tipos de quadrinhos que estimulam o rendimento da criatividade e dos talentos radicais. No Brasil, contudo, o quadrinho de terror foi o baluarte dos desenhistas mais afeitos à aventura que à piada, os que entendem melhor a necessidade de pesquisa. Também houve quadrinhos de guerra, mas nunca com o mesmo público que os de terror. A carreira de Flavio Colin, como a de alguns outros gigantes à la Nico Rosso ou Jayme Cortez, entre seus antecessores, e entre seus contemporâneos, Julio Shimamoto, reflete bem isso. Teve fases de grande produtividade ainda nos anos 50 (Outubro), saiu desse mercado com sua queda(dos gibis de terror em geral) e retomou depois a partir dos 70. Colin saiu da aposentadoria com a Vecchi (Spektro, Pesadelo) e depois do sumiço desta, no terror, fez morada na editora de Rodolfo Zalla, a D´Arte, onde foi ,sim, um dos "Mestres do Terror"! As ilustrações de hoje são representativas da presença de Poe no Brasil. As pgs pequenas devem ser da época da Outubro, embora eu as tenha remontadas numa Spektro . Vêm de uma belíssima adaptação de "Berenice". Os pedaços que botei aí dão uma idéia de como Colin soube fazer seu traço render, de um modo informado. Seu romântico é gótico, suas sombras são psicológicas, não "realistas". Prestou tremendo serviço a Poe mesmo sem dar o close nos dentes de Berenice que o texto do autor sugere...cautelas da época puritana! Já as duas pgs que tomaram conta desse post vêm de uma adaptação de "Metzengerstein" roteirizada pelo Júlio Emílio Braz e desenhada por Colin ainda nos anos 80, mas que só saiu no álbum "Filho do Urso e outras histórias", de 2003. Coisas do mundo editorial brasuca. Aqui o mestre não segurou a mão e realizou a imagem que Poe levou o conto todo construindo, a saber, a fumaceira emergindo do castelo incendiado e sugerindo o cavalo que impressionou tanto o protagonista, Frederick Metzengerstein. Pode-se argumentar que isso exige é o plano aberto que ele de fato faz, não o close dos dentes de Berenice. Mas a imagem central da história não sumiu... Estou dizendo que Poe passava boa parte do tempo construindo uma imagem específica. Seria bom dar destaque a ela, de modo condizente...mas e o "bom gosto" do comecinho dos anos 60?? Por outro lado, terá sido involuntária, a semelhança fisionômica entre Metzengerstein, no traço do Colin, e o Fabuloso Ota??? Verdade que o personagem está mais alto e magro, mas...!!! Só não podemos ver, com base no post de hoje, que Colin ombreou com os principais bacanas gringos que fizeram Poe em hq, porque ainda não chegaram aqui no nosso seriado de aventura. Ninguém perde por esperar... Flávio Mavignier Colin, é óbvio , vai continuar atual e majestoso, como sempre foi, por mais uns cinquenta anos! Pode esperar mais um tiquinho, amigo leitor , só pra ver se eu não tô falando demais!!!