quarta-feira, 1 de julho de 2009

Berenice, Metzengerstein e Flavio Colin




No post anterior, eu disse que chegou a hora do quadrinho de terror. Tudo em torno do fim dos anos 50 e começo dos 60, com um ressurgimento nos 70, embora nos EUA desde o começo dos 50 o gênero existisse. No Brasil, vivenciamos isso de maneira bem parecida. Claro que em lugares como a Argentina ou a Europa em geral, houve e há vários tipos de quadrinhos que estimulam o rendimento da criatividade e dos talentos radicais. No Brasil, contudo, o quadrinho de terror foi o baluarte dos desenhistas mais afeitos à aventura que à piada, os que entendem melhor a necessidade de pesquisa. Também houve quadrinhos de guerra, mas nunca com o mesmo público que os de terror. A carreira de Flavio Colin, como a de alguns outros gigantes à la Nico Rosso ou Jayme Cortez, entre seus antecessores, e entre seus contemporâneos, Julio Shimamoto, reflete bem isso. Teve fases de grande produtividade ainda nos anos 50 (Outubro), saiu desse mercado com sua queda(dos gibis de terror em geral) e retomou depois a partir dos 70. Colin saiu da aposentadoria com a Vecchi (Spektro, Pesadelo) e depois do sumiço desta, no terror, fez morada na editora de Rodolfo Zalla, a D´Arte, onde foi ,sim, um dos "Mestres do Terror"! As ilustrações de hoje são representativas da presença de Poe no Brasil. As pgs pequenas devem ser da época da Outubro, embora eu as tenha remontadas numa Spektro . Vêm de uma belíssima adaptação de "Berenice". Os pedaços que botei aí dão uma idéia de como Colin soube fazer seu traço render, de um modo informado. Seu romântico é gótico, suas sombras são psicológicas, não "realistas". Prestou tremendo serviço a Poe mesmo sem dar o close nos dentes de Berenice que o texto do autor sugere...cautelas da época puritana! Já as duas pgs que tomaram conta desse post vêm de uma adaptação de "Metzengerstein" roteirizada pelo Júlio Emílio Braz e desenhada por Colin ainda nos anos 80, mas que só saiu no álbum "Filho do Urso e outras histórias", de 2003. Coisas do mundo editorial brasuca. Aqui o mestre não segurou a mão e realizou a imagem que Poe levou o conto todo construindo, a saber, a fumaceira emergindo do castelo incendiado e sugerindo o cavalo que impressionou tanto o protagonista, Frederick Metzengerstein. Pode-se argumentar que isso exige é o plano aberto que ele de fato faz, não o close dos dentes de Berenice. Mas a imagem central da história não sumiu... Estou dizendo que Poe passava boa parte do tempo construindo uma imagem específica. Seria bom dar destaque a ela, de modo condizente...mas e o "bom gosto" do comecinho dos anos 60?? Por outro lado, terá sido involuntária, a semelhança fisionômica entre Metzengerstein, no traço do Colin, e o Fabuloso Ota??? Verdade que o personagem está mais alto e magro, mas...!!! Só não podemos ver, com base no post de hoje, que Colin ombreou com os principais bacanas gringos que fizeram Poe em hq, porque ainda não chegaram aqui no nosso seriado de aventura. Ninguém perde por esperar... Flávio Mavignier Colin, é óbvio , vai continuar atual e majestoso, como sempre foi, por mais uns cinquenta anos! Pode esperar mais um tiquinho, amigo leitor , só pra ver se eu não tô falando demais!!!

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