terça-feira, 30 de março de 2010
Vampiros e a FC
Este post de hoje já tô me devendo faz um tempo. Ando cada vez mais convencido de que há mais de um ponto de contato entre a literatura vampiresca e a FC. Não falo só das versões mais imediatamente contemporâneas como "Crepúsculo", mas também das que não relutam em apresentar vampiros como criaturas de fato assustadoras. Poderíamos começar essa exemplificação já desde " O Horla", o magistral conto de Guy de Maupassant, no qual o vampiro é algum tipo de alienígena que se alimenta das nossas energias vitais, no caso, do narrador. É bem atípico na apresentação de seu monstro, que nada tem de sedutor ou sequer de muito perceptível...É um daqueles textos que ficam com a gente durante um bom tempo, depóis que a gente lê! Pode ser encontrado, por exemplo, na excelente antologia organizada pela Martha Argel e pelo Humberto Neto, publicada pela Aleph, a mesma de "O Fim da Infância" do post anterior...a linha editorial deles anda de babar!! Saliento também que a mesma editora já lançou, em português, a excelente e imperdível História Alternativa "Anno Dracula", do Kim Newman, na qual diversos persoanegns clássicos da literatura vampírica se tornam dignitários do novo império britânico vampirizado quando Dracula toma o poder na Inglaterra vitoriana que corrói por dentro, num livro que vou reler, com certeza. No entanto, cabe sublinhar que, tanto do ponto de vista do bom divertimento como do da adequação ao meu tema de hoje, o diálogo entre vampirismo e FC, a Aleph não é a única a acertar. O belo livro da Martha Argel pela idea, "O Vampiro da Mata Atlântica" casa muito bem um clima aterrorizante com muita informação cientificamente precisa sobre a dita mata atlântica.Essa é uma demanda antiga de boa parte da FC; informar e discutir conhecimento. O que mais me seduziu no livro, contudo, foi o fato de que não dá qualquer explicação religiosa pra vampirismo, assim como o muito bacana livro da Suzy McKee Charnas, que estava pra ler faz tempo e afinal encarei. Esse traço de união entre os dois, a abordagem agnóstica, me agrada muito. Não há de ser deus nenhum o principal inimigo dos sanguessugas, no meu modo de ver, mas a revolta de seu "gado humano" contra esses predadores (opa! Sim, leia "Predadores", o ótimo quadrinho Vampírico francês de Marini e Dufaux, pela Devir) sem caráter, ou com pouquíssimo. Desconfio que MsKee Charnas teve mais tempo e um bom adiantamento pra escrever seu livro, o que faz (muita) diferença. Mas os dois fazem dialogar a concepção de natureza como força viva (não quadro estático, cenário) com a do vampíro como nosso "inimigo natural". Nos dois livros que estrelam o presente post, certas presas não se deixam caçar, e por mais que a Martha tenha menos tempo par caracterizar seu predador, ele é de arrepiar os cabelos, numa narrativa que nos agarra pelo gasganete e nos deixa, além de bem impressionados, mais informados, no final. Tal valor está mais forte no "Vampiro da MA" que no "Vampire tapestry", que constrói seus brilhantes personagens com mais calma e rigor... Esse negócio de vampiro com medo de cruz e paramentação religiosa, pra mim, nos nossos dias, não pode mais ser o mote. O grande inimigo do vampiro é a vida, ou o mundo, não deus nenhum. Vampiros, sim, viva, e também pra quem não crê numa rígida divisão "cósmica" entre bem e mal, mas no valor da sua própria curiosidade! Sim, eu recomendo com entusiasmo os dois livros!! A cultura vampiresca dos nossos dias precisa sair da barra da batina dos padres...Não que já não o tenha feito, mas esses livros o realizam muito, muito bem, e eu os curti bastante! Se não tivesse gostado do livro brasuca, diria à autora, que tenho privilégio de conhecer em pessoa! Abaixo toda e qualquer tentativa de transformar John Constatine bum sacristão "envenenado" feito carro antigo...Evoé! Consegui! Mais posts esse mês que no passado! Excvelsior!!!
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Salve salve!
ResponderEliminarMuito feliz em me deparar com tua msg em meu post do Pai-em-Trevas, vim cá para pagar-lhe uma visita de cortesia, e me deparo também com uma entrada sua sobre nossos sanguessugas favoritos! Pois é, o da Argel ainda não li, falam-me sempre muito bem... mas de literatura sanguínea ao menos estão na fila Anno Dracula (que já comecei, o primeiro capítulo arrebenta na idéia) e Eu Sou a Lenda, do Matheson (esqueçam aquela bobajada com o Will Smith, criançada!).
Ah, e li O Coração das Trevas: http://omalhumorado.blogspot.com/2008/08/o-corao-das-trevas.html
Abração!