segunda-feira, 20 de julho de 2009

O Coração revelador- Segunda versão






"O Coração Revelador" também chegou aos quadrinhos nos gibis da Warren, que passaram a ter, depois de um certo ponto, uma curta seção colorida em cada edição. Mais uma vez, a experiência pioneira esteve nas mãos de Archie Goodwin e Reed Crandall, que devem,sim, ter ficado bem felizes de ver seu trabalho em papel branco, uma raridade na época. Gibi naquele tempo, os anos setenta, era coisa de segunda, e portanto não tinha vida comercial que bancasse certos valores altos de impressão.Só gente boa ganhava papel branco e co-res, na Warren!! Goodwin , por seu lado, tinha uma prosa concisa e atenta muito mais às necessidades narrativas que a história passava a ter, uma vez trazida pros quadrinhos, do que a qualquer "fidelidade" à letra do texto original. Sua fidelidade era à intenção de Poe: assustar. Quando menino, Goodwin, como Will Eisner, terá sido leitor não só de Poe, mas de muitos outros contistas americanos, como O. Henry e Damon Runyon. O folhetim e o conto andaram muito de mãos dadas nas publicações populares dos EUA, e a noção de colocar sempre uma nova surpresa no final de uma narração é mais típica de O. Henry( que Eisner cita como influência assumida) do que de Poe, mas tudo se mistura. Americano, a seu modo, também aprecia um Carnaval . Assim, não é de estranhar que, nessa adaptação, Goodwin tenha acrescentado mais um detalhe à narração de Poe. Um segundo final, por assim dizer. O mordomo do velho do olho duro, o pobre diabo que se vê assombrado por aquele desconfortável detalhe na aparência de seu patrão, não só endoida por conta disso (com esse "mote"), como fica, depois que pula da janela e se suicida, com um olho duro que nem o do velho. Essa história de suicídio é invenção de Archie Goodwin! O texto de Poe trabalha o medo mesmo é no tomar de decisões do mordomo, que a hq mostra muito bem, e no diálogo surrealista dele com a polícia, antes que o bater do coração do defunto o force a se revelar. Essa parte a meu ver, ficou muito submetida à parte verbal da narrativa, nessa hq. Não tá bem mostrada, com o destaque merecido. A busca dos equivalentes visuais da angústia do desgraçado só foi até certo ponto. O principal fica dependendo do quase ilustrativo, de tão meticulosamente bem acabado, traço de Reed Crandall. De fato, é trabalho impressionante. Como se Hal Foster fosse um narrador mais ágil e desenhasse terror... A cor sublinha a narração direitinho, principalmente o lado emocional, mas como seu uso foi meio muito entusiasmado, então às vezes obscurece detalhes do traço do desenhista. No todo, o uso dessas cores, bem pouco à vontade, é um ponto bem mais fraco que as ousadias do roteiro, o qual só desagrada purista. Contudo, mas, porém , todavia, embora Reed Crandall, como podemos ver, e outros parceiros seus do tempo da EC, continuassem afiados, ainda não era com eles que a Warren ia inovar mesmo... Continua ,sim, no próximo e emocionante episódio!!

1 comentário:

  1. Patati,
    as intempéries profissionais e o fato do dia ter apenas 24h me impedem de comentar com maior frequencia. Parabéns pelo blog e pelo excelente nível do que se lê por aqui.
    PS Publicamos uma versão do Coração Revelador, na Graffiti 5, com excelente arte do QUinho. Depois dá uma conferida!

    abs
    Fabiano

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